Parceria da praticagem é destacada por executivos do CentroNave e da MSC
Em webinar do Fórum Nacional de Logística e Infraestrutura Portuária (Brasil Export), na quarta-feira (17/6), o presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), prático Ricardo Falcão, disse que serviço de dragagem deveria ser um projeto de Estado e realizado regularmente, a exemplo de países mais avançados na área portuária. A contribuição da praticagem na superação dos gargalos logísticos foi destacada durante o evento.
Ricardo Falcão citou um episódio de uma viagem que fez pelo Rio Mississipi (EUA), em 2010, quando questionou ao prático local qual era o calado máximo de operação. A resposta foi 47 pés, independentemente de variação de maré.
– Lá fora, não tem “se”. Eles olham a norma técnica internacional para gerar segurança e eficiência na operação e tomam a decisão de Estado de investir. A única discussão é quanto será pago pelo governo estadual ou federal. Na data que em tiver que ocorrer, ocorrerá (a entrega) – disse Falcão. – Dragagem não é um projeto de um governo, é um projeto de Estado, tem que ser feita regularmente. Temos que decidir como queremos operar, que navio vai operar em cada região e fornecer as condições para isso.
A discussão do webinar foi moderada por Henry Robinson, da MSC, presidente do Conselho do Sudeste Export – um dos eventos regionais do Brasil Export. Segundo ele, o tema da dragagem precisa ser tratado de forma estratégica, evitando-se “quebra-galhos” para superar a falta de manutenção:
– O exemplo da maré é muito bom. A maré é irrelevante. Se você depender de maré, já cria um empecilho no porto, uma falta de competitividade. Se um navio tem que esperar maré e ocorrer um acidente em cada porto, se você somar esse tempo ocioso na viagem, talvez o armador precise colocar um navio a mais por ano para dar a mesma capacidade de transporte nessa rota. Enquanto não se entender a economicidade do setor marítimo, não vamos entender como é fundamental a dragagem de manutenção.
O diretor-executivo do CentroNave, Claudio Loureiro de Souza, lembrou das variações de calado no Porto de Santos (SP), onde houve, paradoxalmente, uma redução de 20 centímetros após a dragagem, porque ainda não foi feita a batimetria. Ele também defendeu a necessidade de se ter estabilidade e afirmou que a praticagem tem ajudado em um cenário instável:
– A cada operação, a praticagem tem nos alertado muito sobre as limitações técnicas e de horários para momentos específicos. E também faz um serviço de acompanhamento técnico geral. Não fosse isso, não sei como teríamos uma operação mais tranquila.
Henry Robinson destacou o estreitamento de relações entre os atores do porto e corroborou a parceria técnica da praticagem, que, segundo ele, tem agido com profissionalismo e proativamente.
O presidente do Conapra comentou sobre a integração:
– A gente evoluiu muito conversando. Essa parceria tem, cada vez mais, permitido soluções, utilizando-se os mesmos recursos. Temos nos esforçado adotando ferramentas novas, treinando em modelos tripulados, em simuladores etc. A praticagem entende que é parte da sociedade e da comunidade marítima e portuária. Não adianta só falarmos em segurança da navegação, temos que falar em eficiência.
Ricardo Falcão sugeriu que esse tipo de parceria privada pode se estender ao poder público, com o agronegócio acelerando a viabilização de baixos investimentos que seriam benéficos a todos. Ele citou o caso da nova carta náutica da barra norte do Rio Amazonas, que revelou, com 40 anos de atraso na sondagem, um canal com quase um metro a mais de profundidade.
A praticagem tem investido na região, onde instalou um marégrafo que vem permitindo ganhos de calado. Os dados, compartilhados com a Marinha e a UFRJ, mostraram que havia um metro a mais de maré e que a preamar ocorria duas horas antes. Além disso, levantamento da Praticagem do Amapá descobriu uma nova rota por trás da Ilha de Santana, que, se confirmada pela Marinha, vai possibilitar a chegada de graneleiros ainda maiores.
– Quanto mais conversa e informação na mesa, melhor para todos – encerrou Falcão.
Também participaram do webinar o diretor Administrativo do Conapra, prático João Bosco; o diretor-superintendente da Praticagem do Estado de São Paulo, Hermes Bastos Filho, integrante do Conselho do Sudeste Export; o diretor-presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), Francisco Antonio de Magalhães Laranjeira; o presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), Regis Prunzel; entre outros representantes da cadeia logística do setor.