GRANELEIRO MAIS CARREGADO APROVADO NO TESTE DA BARRA NORTE

Trecho raso e lamo­so que deli­mi­ta o cala­do (par­te sub­mer­sa) de todos os navi­os na Bacia Amazônica, a bar­ra nor­te do Rio Amazonas vai, aos pou­cos, sen­do supe­ra­da por embar­ca­ções cada vez mais car­re­ga­das. No últi­mo fim de sema­na, ocor­reu o pri­mei­ro de 12 tes­tes para vali­da­ção do novo cala­do de 11,90 metros pela Marinha. O avan­ço segu­ro na região vem sen­do pos­sí­vel por­que a Praticagem da Bacia Amazônica Oriental inves­te no estu­do das marés e na son­da­gem da pro­fun­di­da­de (bati­me­tria) dos rios que com­põem a bacia. E a expec­ta­ti­va é que se avan­ce ain­da mais com o recen­te inves­ti­men­to anun­ci­a­do no sis­te­ma de cala­do dinâmico.

O navio ASTRAEA SB saiu car­re­ga­do de soja de Santarém (PA), na sex­ta-fei­ra (18/2). No sába­do, em Fazendinha, Macapá (AP), hou­ve a tro­ca da dupla de prá­ti­cos que se reve­za­va na con­du­ção da embar­ca­ção. De lá, o navio nave­gou 150 milhas náu­ti­cas (277,8km) até a tra­ves­sia da bar­ra nor­te, com 11,75 metros de cala­do. O tre­cho de 23 milhas náu­ti­cas (42,6 km) requer uma nave­ga­ção de extre­ma pre­ci­são para a embar­ca­ção não tocar o fun­do. Por isso, é fei­to em bai­xa velo­ci­da­de, moni­to­ran­do-se o tem­po todo a fol­ga abai­xo da quilha.

Acompanharam a pas­sa­gem a bor­do um repre­sen­tan­te da Autoridade Marítima (do Centro de Hidrografia e Navegação do Norte) e um ins­pe­tor naval PSC (Port State Control). Eles desem­bar­ca­ram com os prá­ti­cos no Espadarte, no nor­des­te do Pará, de onde o gra­ne­lei­ro seguiu via­gem rumo ao Egito. Serão rea­li­za­dos mais um tes­te com 11,75 metros de cala­do; dois tes­tes com 11,80m; qua­tro tes­tes com 11,85m; e, final­men­te, mais qua­tro tes­tes com 11,90m; todos apro­vei­tan­do a maré de 3,10m ou mais.

– Foi o pri­mei­ro de uma série de tes­tes para con­so­li­dar o aumen­to do cala­do máxi­mo auto­ri­za­do pela Marinha. É um mar­co que vai poten­ci­a­li­zar a expor­ta­ção do agro­ne­gó­cio pelo Arco Norte e a pro­du­ti­vi­da­de dos ter­mi­nais de Itacoatiara (AM), Santarém (PA) e Santana (AP), pro­mo­ven­do a expan­são da hin­ter­lân­dia (área de abran­gên­cia comer­ci­al) dos por­tos da Amazônia. Todo o inves­ti­men­to cus­te­a­do exclu­si­va­men­te pela pra­ti­ca­gem – des­ta­ca o pre­si­den­te da Cooperativa de Apoio e Logística aos Práticos da Zona de Praticagem 1 (Unipilot), prá­ti­co Adonis dos Santos.

Os estu­dos da pra­ti­ca­gem na aná­li­se das marés se apro­fun­da­ram em 2017, quan­do foi ins­ta­la­do um maré­gra­fo no Canal Grande do Curuá, cujas infor­ma­ções têm sido com­par­ti­lha­das com a Marinha e com a UFRJ. Já a son­da­gem das pro­fun­di­da­des dos rios é fei­ta pela pra­ti­ca­gem, de modo com­ple­men­tar às son­da­gens ofi­ci­ais, há mais de dez anos, sen­do de suma impor­tân­cia, por­que na Amazônia ban­cos de areia se movi­men­tam cons­tan­te­men­te sob as águas, alte­ran­do os canais de nave­ga­ção. A par­tir do iní­cio do pro­je­to, o cala­do per­mi­ti­do aumen­tou de 11,50 metros para os 11,90m atu­ais, auto­ri­za­dos em fase de tes­tes, pos­si­bi­li­tan­do car­re­gar mais de US$ 1 milhão em car­ga por navio.

No dia 8 de feve­rei­ro, a pra­ti­ca­gem anun­ci­ou mais um inves­ti­men­to que pode con­tri­buir para ele­var o cala­do para até 12,50 metros. O pro­to­co­lo para implan­ta­ção do sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co foi assi­na­do pela Unipilot com o Comando do 4º Distrito Naval. O sis­te­ma inte­gra­do de cole­ta e pro­ces­sa­men­to de dados cal­cu­la o quan­to um navio pode aumen­tar o seu volu­me sub­mer­so, sem ris­co de enca­lhe, con­si­de­ran­do infor­ma­ções como os inter­va­los de maré, entre outras. Até o fim do mês, será fun­de­a­da a pri­mei­ra de três boi­as mete­o­ce­a­no­grá­fi­cas cujos sen­so­res vão gerar dados de cor­ren­tes, altu­ra de maré e den­si­da­de da água, duran­te todos os dias da sema­na. O cus­to do pro­je­to é de R$ 3,6 milhões.

– Além de supor­tar o alto cus­to de fun­ci­o­na­men­to da ati­vi­da­de, com lan­chas espe­ci­ais e cen­tros de ope­ra­ções em pron­ti­dão 24 horas, todas as pra­ti­ca­gens fazem pesa­dos inves­ti­men­tos que con­ci­li­am nave­ga­ção segu­ra e efi­ci­ên­cia. Isso é viá­vel por­que, lá atrás, nos anos 1960, a Marinha tor­nou a pra­ti­ca­gem uma ati­vi­da­de pri­va­da. A con­sequên­cia des­sa deci­são é vis­ta na qua­li­da­de do ser­vi­ço e na pro­du­ti­vi­da­de que ele gera para o país – res­sal­ta o pre­si­den­te da Praticagem do Brasil, prá­ti­co Ricardo Falcão, que tam­bém atua na região.

Somados a bau­xi­ta, con­têi­ne­res, petró­leo e deri­va­dos, pro­du­tos como soja e milho são cada vez mais esco­a­dos pelos rios da Amazônia. A pro­du­ção do agro­ne­gó­cio do Centro-Oeste che­ga em bar­ca­ças pelo Rio Madeira até Itacoatiara (AM) e pelo Rio Tapajós até Santarém (PA). Nos ter­mi­nais por­tuá­ri­os, a car­ga é trans­fe­ri­da para os navi­os que des­cem o Rio Amazonas. Em 2020, o Arco Norte alcan­çou pari­da­de de movi­men­ta­ção de soja e milho com o Porto de Santos, res­pon­den­do por 31,9% do total embar­ca­do no país, o dobro da sua par­ti­ci­pa­ção em 2009. A expor­ta­ção de grãos aci­ma do para­le­lo 16 sal­tou de 7,2 milhões em 2009 para 42,3 milhões em 2020, segun­do a Confederação Nacional da Agricultura.