COMO FOI O 1º SEMINÁRIO PLANEJAMENTO PORTUÁRIO NO RJ

Mais de 200 pes­so­as, incluin­do públi­co onli­ne, assis­ti­ram ao 1º Seminário Planejamento Portuário, rea­li­za­do, na segun­da-fei­ra (18/9), no Rio de Janeiro pela Praticagem do Brasil, com patro­cí­nio de Hidromares, TechGeo e Wilson Sons. O even­to abor­dou as prin­ci­pais reco­men­da­ções inter­na­ci­o­nais para ela­bo­ra­ção de pro­je­tos por­tuá­ri­os ou alte­ra­ção em ins­ta­la­ções exis­ten­tes, reu­ni­das no livro “Planejamento Portuário – Recomendações para Acessos Náuticos”. A obra aca­ba de ganhar uma ver­são em inglês dis­po­ní­vel gra­tui­ta­men­te em nos­so site.

O dire­tor téc­ni­co da Praticagem do Brasil, prá­ti­co Marcio Fausto, fez a sau­da­ção ini­ci­al, lem­bran­do que o semi­ná­rio teria como rotei­ro as pre­mis­sas do livro:

– Em seu pre­fá­cio, o então pre­si­den­te do Tribunal Marítimo, almi­ran­te Lima Filho, que hoje nos pres­ti­gia como dire­tor da Antaq, escre­veu que “o Brasil é inviá­vel sem o mar”. Fazer nos­so país com­pe­ti­ti­vo é uma ques­tão de sobre­vi­vên­cia. Porém, a bus­ca por cul­pa­dos do cha­ma­do Custo Brasil mui­tas vezes sim­pli­fi­ca ques­tões téc­ni­cas, logís­ti­cas e ope­ra­ci­o­nais de extre­ma com­ple­xi­da­de, espe­ci­al­men­te no trans­por­te marí­ti­mo. Com menos frequên­cia vemos exal­ta­dos o tra­ba­lho e os esfor­ços daque­les que tor­nam viá­vel e menos cus­to­so o uso da nos­sa infra­es­tru­tu­ra e dos nos­sos canais de aces­so, a des­pei­to dos gar­ga­los e desa­fi­os exis­ten­tes. A cada cen­tí­me­tro a mais de cala­do, a cada novo ber­ço de atra­ca­ção, a cada dra­ga­gem, a cada navio de mai­or por­te que aden­tra um por­to e a cada semi­ná­rio como esse via­bi­li­za­mos o Brasil.

O dire­tor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), vice-almi­ran­te Wilson Pereira de Lima Filho, rea­li­zou a aber­tu­ra do evento:

– Quando escre­vi o pre­fá­cio do livro, per­ce­bi a sua impor­tân­cia, no momen­to em que efi­ci­ên­cia e efi­cá­cia do binô­mio navio-por­to são essen­ci­ais para o cres­ci­men­to do país. Em 2017, eu era dire­tor de Portos e Costas e hou­ve um empe­nho de todos na bei­ra do cais para inter­na­li­zar as nor­mas da Pianc (Associação Náutica Internacional), prin­ci­pal­men­te no pla­ne­ja­men­to de ope­ra­ções por­tuá­ri­as. Por razões diver­sas, essas nor­mas não foram con­so­li­da­das pela ABNT, mas os auto­res trans­for­ma­ram o tra­ba­lho nes­se livro, no sen­ti­do de dar ori­en­ta­ções. Os navi­os cres­cem e os por­tos são os mes­mos. Então, temos que fazer aná­li­ses pro­fun­das para aumen­tar boca e LOA (com­pri­men­to) das embar­ca­ções. O livro nos per­mi­te fazer esses estu­dos com mai­or técnica.

Uma das pre­mis­sas da obra é que todos os pro­je­tos, sejam eles novas ins­ta­la­ções, novos parâ­me­tros ope­ra­ci­o­nais ou ope­ra­ções, pre­ci­sam ser simu­la­dos pre­vi­a­men­te com a par­ti­ci­pa­ção de todos os envol­vi­dos, sen­do impres­cin­dí­vel a pre­sen­ça de prá­ti­cos locais. Esse foi o tema do pri­mei­ro pai­nel “Vias de aces­so a ins­ta­la­ções portuárias”.

– Nossa infra­es­tru­tu­ra cres­ceu menos que os navi­os. O Porto de Santos, por exem­plo, ampli­ou suas dimen­sões hori­zon­tais em 1,5 nos últi­mos 50 anos, em ter­mos de lar­gu­ra e pro­fun­di­da­de. O navio cres­ceu três vezes no mes­mo perío­do. Há uma pres­são sobre a infra­es­tru­tu­ra que se resol­ve com mais enge­nha­ria e recur­sos tec­no­ló­gi­cos. Tanto a Pianc quan­to as demais nor­mas inter­na­ci­o­nais e o livro pre­zam que enge­nha­ria, conhe­ci­men­tos náu­ti­cos e aná­li­se de ris­cos devem cami­nhar jun­tos. E um simu­la­dor de mano­bras une os três no mes­mo ambi­en­te de for­ma inte­gra­da – afir­mou o coor­de­na­dor do Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP), pro­fes­sor Eduardo Tannuri, que apre­sen­tou exem­plos de por­tos e ope­ra­ções via­bi­li­za­dos fora dos limi­tes da Pianc com segu­ran­ça, com apoio de simu­la­ções e estudos.

Na sequên­cia, o pro­fes­sor Daniel Vieira (TPN-USP) tra­tou dos fato­res que afe­tam os pro­je­tos ver­ti­cais deta­lha­dos de canais de aces­so – cujos obje­ti­vos são deter­mi­nar pro­fun­di­da­de de dra­ga­gem, cala­do máxi­mo segu­ro, jane­la de ope­ra­ção e ori­en­tar velo­ci­da­des máxi­mas – e dos aspec­tos ana­li­sa­dos na ava­li­a­ção de ber­ços de atra­ca­ção exis­ten­tes e no layout de novos berços.

Rodrigo Barrera (TPN-USP), por sua vez, falou sobre a mode­la­gem de rebo­ca­do­res em simu­la­ção de mano­bras e a impor­tân­cia com­ple­men­tar dos sis­te­mas de moni­to­ra­men­to den­tro do simu­la­dor, como o soft­ware do PPU (por­ta­ble pilot unit), que pode con­tri­buir na per­cep­ção de dis­tân­ci­as e nas fases de bri­e­fing, debri­e­fing e aná­li­se de risco.

No segun­do pai­nel, inti­tu­la­do “Navegação em águas rasas, dra­ga­gem e fun­do náu­ti­co”, os pro­fes­so­res Sergio Sphaier (UFRJ) e Ernesto Coutinho (Fundação Homem do Mar) divi­di­ram a pales­tra a res­pei­to dos efei­tos de águas rasas sobre a mano­bra­bi­li­da­de de navi­os, enquan­to Francisco Rozendo (Vale) demons­trou fato­res con­si­de­ra­dos na espe­ci­fi­ca­ção téc­ni­ca e pre­ci­fi­ca­ção de dra­ga­gem de manu­ten­ção, como tole­rân­cia para incer­te­zas. O pai­nel foi medi­a­do pelo pro­fes­sor José Mario Calixto (Fundação Homem do Mar).

À tar­de, o ter­cei­ro pai­nel – “Análise de ris­co no pla­ne­ja­men­to por­tuá­rio” – teve como pri­mei­ro pales­tran­te o pro­fes­sor Marcelo Martins, do Laboratório de Análise, Avaliação e Gerenciamento de Risco da USP (LabRisco). Ele expli­cou os con­cei­tos fun­da­men­tais para uma aná­li­se de ris­co (peri­go, aci­den­te e ris­co), a meto­do­lo­gia do labo­ra­tó­rio e os pas­sos para uma aná­li­se preliminar.

O pro­fes­sor Marcos Maturana (LabRisco) res­sal­tou que são simu­la­dos os even­tos não tole­rá­veis, que geram dis­cus­sões mais aca­lo­ra­das ou que tenham alta seve­ri­da­de. Ele trou­xe o caso de mano­bras com petro­lei­ros na Baía de Sepetiba, em que foram pro­pos­tas medi­das de miti­ga­ção e con­tin­gên­cia para o peri­go das con­di­ções adver­sas de ven­to. Já o prá­ti­co Renato Kopezynski focou na miti­ga­ção e pre­ven­ção de aci­den­tes de navio com guin­das­te de pór­ti­co. Mediador do pai­nel, o prá­ti­co Siegberto Schenk des­ta­cou a neces­si­da­de de moni­to­ra­men­to pós-aná­li­se de risco.

No últi­mo pai­nel, “Manobra do navio e movi­men­to em ondas”, Vinicius Vaghetti (Technomar Engenharia) expôs dois casos de uso de simu­la­dor para trei­na­men­to. A empre­sa tem 11 equi­pa­men­tos TMS ins­ta­la­dos no país, úni­co desen­vol­vi­do no hemis­fé­rio sul cer­ti­fi­ca­do pela DNV. Um deles fun­ci­o­na no Instituto Praticagem do Brasil, em Brasília, que con­ta ain­da com outro simu­la­dor em par­ce­ria com o TPN-USP.

Felipe Ruggeri (Argonáutica Engenharia) se dedi­cou sobre o movi­men­to de embar­ca­ções em ondas e fol­ga dinâ­mi­ca abai­xo da qui­lha, assun­to rele­van­te con­si­de­ran­do que gran­de par­te dos por­tos e ter­mi­nais no Brasil pos­su­em canais de aces­so desa­bri­ga­dos e fol­ga res­tri­ta para navegação.

Por fim, o pro­fes­sor Edson Mesquita (Marinha do Brasil) fechou o ciclo de pales­tras com o tema “A mano­bra do navio no sécu­lo 21”. Ele lem­brou que, assim como cada navio tem um com­por­ta­men­to em ondas, o mes­mo ocor­re com a sua mano­bra­bi­li­da­de, pois cada embar­ca­ção tem um DNA pró­prio e cada por­to uma impres­são digi­tal específica:

– Os navi­os são dife­ren­tes. Por isso, o prá­ti­co tem papel fun­da­men­tal. Fazendo cor­res­pon­dên­cia com a avi­a­ção, ele não é só o coman­dan­te de um boeing, mas tem que ope­rar diver­sos tipos de aviões em vári­os aeroportos. 

O pre­si­den­te da Praticagem do Brasil, prá­ti­co Ricardo Falcão, encer­rou o seminário: 

– Quando eu entrei para a Marinha Mercante, em 1994, a rea­li­da­de era bem dife­ren­te. Os pro­fes­so­res Mesquita e Jofre inau­gu­ra­vam o pri­mei­ro simu­la­dor no Ciaga (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha), era uma novi­da­de. Vários dos con­cei­tos que vimos aqui eram expe­ri­men­tais e a dis­cus­são mui­to inci­pi­en­te. Como per­ce­be­mos na pales­tra do pro­fes­sor Tannuri, a dimen­são dos navi­os cres­ceu de for­ma mui­to supe­ri­or à dos nos­sos por­tos. O desa­fio só aumen­tou. Mas hoje temos um país com uma nor­ma con­sa­gra­da, uma Autoridade Marítima pre­sen­te regu­lar­men­te na IMO (Organização Marítima Internacional) e tra­zen­do o que há de mais moder­no em comér­cio marí­ti­mo inter­na­ci­o­nal. Estamos falan­do em mais de 70 mil mano­bras anu­ais em águas bra­si­lei­ras sem ouvir falar em aci­den­tes séri­os. Isso é res­pon­sa­bi­li­da­de do poder públi­co com a soci­e­da­de. Talvez nos fal­te em inves­ti­men­to em infra­es­tru­tu­ra, no entan­to, temos uma lin­gua­gem téc­ni­ca e de nível mun­di­al na qual o Brasil não fica atrás de nação algu­ma. O resul­ta­do de toda essa dis­cus­são é o melhor para o nos­so país.

O 1º Seminário Planejamento Portuário foi pres­ti­gi­a­do por vári­as auto­ri­da­des, entre elas o dire­tor de Portos e Costas da Marinha, vice-almi­ran­te Sergio Renato Berna Salgueirinho; o pre­si­den­te da Sociedade Brasileira de Hidrografia (SBHidro), vice-almi­ran­te Paulo Cesar Dias de Lima; o pro­cu­ra­dor espe­ci­al da Marinha, vice-almi­ran­te Luiz Octávio Barros Coutinho; o pre­si­den­te do Tribunal Marítimo, vice-almi­ran­te Ralph Dias da Silveira Costa; o con­tra-almi­ran­te José Luiz Ribeiro Filho e o con­tra-almi­ran­te Sergio Gago Guida (DPC); e o con­tra-almi­ran­te Carlos Augusto Chaves Leal Silva (SBHidro).

A trans­mis­são com­ple­ta está em nos­so YouTube:
https://www.youtube.com/live/jE1GdJCvPZw?feature=shared

Álbum de fotos para down­lo­ad: https://www.flickr.com/photos/praticagemdobrasil/albums/72177720311322593

Palestras:
https://www.praticagemdobrasil.org.br/1o-seminario-planejamento-portuario/