Ação de Prático evita desastre na baía da Guanabara

Heróis anô­ni­mos tem evi­ta­do que a ima­gem do Rio fique ain­da pior na vés­pe­ra de Olimpíada. Na manhã da últi­ma quin­ta-fei­ra, às 6 horas da manhã, o navio tan­que Golar Spirit, ban­dei­ra das Ilhas Marshall, car­re­ga­do de gás, per­deu o leme na Baia da Guanabara (pon­ta de Santa Cruz).  Uma tra­gé­dia ambi­en­tal sem pre­ce­den­tes foi evi­ta­da pela pron­ta ação do prá­ti­co Diogo Weberszpil, espe­ci­a­lis­ta em mano­bras aris­ca­das. Ele tomou o coman­do da embar­ca­ção e con­se­guiu evi­tar que se espa­ti­far-se de encon­tro às pedras da Fortaleza de Santa Cruz e explo­dis­se. Detalhe: no iní­cio des­te mês o TCU deu 90 dias para a Antaq enqua­drar os navi­os estrangeiros.

Ricardo Boechat, Maíra Gama e Rodolfo Schneider comen­tam o assun­to. Emissora: Bandnews FM Programa: Jornal Bandnews Rio (09h25)

Rodolfo Schneider e Ricardo Boechat comen­tam o assun­to.  Emissora: Bandnews FM Programa: Jornal Bandnews Rio (09h20)

Veja abai­xo o vídeo do navio gasei­ro apro­xi­man­do-se da for­ta­le­za de Santa Cruz

* Este conselho creditará ao autor do vídeo tão logo tome conhecimento. 

A um mês dos Jogos Olímpicos, a ini­ci­a­ti­va e pre­pa­ro téc­ni­co do prá­ti­co Diogo Weberszpil, do Rio de Janeiro, evi­tou o que pode­ria ter sido o mai­or desas­tre ambi­en­tal marí­ti­mo no Brasil. Por vol­ta das 6 horas da manhã des­ta quin­ta-fei­ra (30/06), o pro­fis­si­o­nal de pra­ti­ca­gem embar­cou no navio tan­que Golar Spirit com a tare­fa de con­du­zi-lo para as pro­xi­mi­da­des do ter­mi­nal de Gás Natural da Petrobras (GNL).

Uma falha téc­ni­ca no navio, que foi cons­truí­do em 1979 e con­si­de­ra­do mui­to anti­go para via­gens de lon­go cur­so, fez com que o leme da embar­ca­ção tra­vas­se impe­din­do qual­quer mano­bra. O prá­ti­co pron­ta­men­te per­ce­beu que o timo­nei­ro não esta­va con­se­guin­do gover­nar, pois o leme esta­va tra­va­do do lado direi­to fazen­do com que o navio se apro­xi­mas­se rapi­da­men­te da Fortaleza de Santa Cruz.

Diogo Weberszpil, que pas­sou por diver­sos trei­na­men­tos de emer­gên­cia no exte­ri­or, rapi­da­men­te tomou todas as medi­das para evi­tar a coli­são imi­nen­te. O ris­co da mano­bra des­te tipo de navio é tão alto que a Atalaia sem­pre inter­rom­pe e des­via todo o trá­fe­go de embar­ca­ções nas pro­xi­mi­da­des da Baía. Na sequên­cia, tomou a deci­são acer­ta­da de lan­çar a anco­ra em con­jun­to com outras téc­ni­cas­pa­ra parar o navio.

“Felizmente con­se­gui afas­tar o navio das pedras e con­du­zi-lo para águas segu­ras até que a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro ava­lie quan­do este navio terá con­di­ções de entrar nova­men­te no Porto”, nar­rou o ain­da assus­ta­do Diogo Weberszpil.

Leiam abai­xo a nar­ra­ti­va do Prático Diogo Weberszpil sobre a ope­ra­ção de sal­va­men­to do navio Golar Spirit:

Embarquei no navio Tanque (GNL) Golar Spirit por vol­ta das 05:55hs des­ta manhã para con­du­zi-lo em dire­ção ao Terminal de GNL da Petrobras. Tudo cor­ria como de cos­tu­me, com a tro­ca de infor­ma­ções entre mim e o Comandante sobre a mano­bra e carac­te­rís­ti­cas do navio. Mas sen­ti que havia algo estra­nho quan­do suge­ri o aumen­to de velo­ci­da­de para toda a for­ça e come­cei a soli­ci­tar que o navio gui­nas­se para BE para pros­se­guir na rota pla­ne­ja­da de aces­so à Baía de Guanabara.

Após a ordem de rumo 355º ao timo­nei­ro, o mes­mo não con­se­guiu mais esta­bi­li­zar a proa do navio no rumo indi­ca­do. Prontamente per­ce­bi que o timo­nei­ro não esta­va con­se­guin­do gover­nar, pois o leme esta­va tra­va­do para Boreste fazen­do com que o navio se apro­xi­mas­se rapi­da­men­te da Fortaleza de Santa Cruz com 7 nós de velo­ci­da­de, a cer­ca de 0,6 milhas (1000metros).

Devido ao cons­tan­te trei­na­men­to em simu­la­do­res (feliz­men­te par­ti­ci­pei de 5 trei­na­men­tos nos últi­mos anos), tomei rapi­da­men­te as medi­das neces­sá­ri­as para evi­tar a coli­são imi­nen­te.  Ordenei tro­ca dos sis­te­mas de gover­no (sem resul­ta­do) máqui­na atrás com toda a for­ça, pre­pa­rei os dois fer­ros para lar­gar em emer­gên­cia, usan­do o auxí­lio de rebo­ca­do­res e soli­ci­tei que a Atalaia inter­rom­pes­se e des­vi­as­se todo o trá­fe­go de embar­ca­ções nas pro­xi­mi­da­des da Baía. Na sequên­cia, tomei a deci­são de lar­gar o fer­ro de BE com duas quar­te­la­das mer­gu­lha­das, o que foi fun­da­men­tal para que o navio aumen­tas­se mais o giro para BE e paras­se a cer­ca de 100 metros da Fortaleza.

Felizmente con­se­gui fazer com que a embar­ca­ção se afas­tas­se das pedras e a con­du­zi para águas segu­ras até que a CPRJ ava­lie quan­do esta terá con­di­ções de entrar nova­men­te no Porto.


A mano­bra do prático

A refe­ri­da mano­bra de emer­gên­cia con­sis­tiu em parar o navio com “emer­gency full astern” e duas quar­te­la­das do fer­ro de proa na água, a 100m a cos­ta com a maré enchendo.

O prá­ti­co Diogo Weberszpil do Amaral agiu pron­ta­men­te, con­se­guin­do, por meio des­sas mano­bras, impe­dir o enca­lhe do navio, pre­ve­nir um aci­den­te ambi­en­tal de pro­por­ções e con­sequên­ci­as incal­cu­lá­veis, além de pro­te­ger a vida da tri­pu­la­ção do navio.

Após reto­mar o con­tro­le, nave­gou para fora da bar­ra em segurança.

Toda essa mano­bra foi acom­pa­nha­da por saté­li­te, em cujas ima­gens pode­mos ver as vol­tas que o navio deu até final­men­te parar em segu­ran­ça, pois a res­pos­ta do navio é mui­to lenta.

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Navio gasei­ro

Um navio gasei­ro des­te por­te é capaz de trans­por­tar uma car­ga total de Gás Natural Liquefeito GNL de 128,998 metros cúbi­cos, con­den­sa­do ao esta­do líqui­do numa tem­pe­ra­tu­ra de menos 163 graus Celsius, por­tan­to tra­ta-se de uma “bom­ba ambulante”.

Embora não haja regis­tros de gra­ves aci­den­tes, a cadeia GNL apre­sen­ta gran­des riscos.

Navios gasei­ros repre­sen­tam uma fon­te de ris­co espe­ci­al­men­te na apro­xi­ma­ção de ter­mi­nais, não somen­te em rela­ção à pos­si­bi­li­da­de de ocor­rên­cia de aci­den­te marí­ti­mo como tam­bém por repre­sen­tar um poten­ci­al alvo para ações de sabo­ta­gem ou ter­ro­ris­mo. Por estes moti­vos, a aná­li­se dos ris­cos asso­ci­a­dos a tais ope­ra­ções tem sido fon­te de pre­o­cu­pa­ção internacional.

http://www.marinetraffic.com/pt/ais/details/ships/shipid:711749/mmsi:538002199/imo:7373327/vessel:GOLAR_SPIRIT