Tribunal Marítimo com­ple­ta 85 anos miran­do os pró­xi­mos desafios

Os avan­ços da eco­no­mia e da tec­no­lo­gia impõem novos desa­fi­os ao Tribunal Marítimo. Esta foi a tôni­ca da ses­são sole­ne em home­na­gem aos 85 anos da Corte do mar do Brasil, cri­a­da por decre­to em 5 de julho de 1934. A cerimô­nia, na últi­ma segun­da-fei­ra (8/7), foi pre­si­di­da pelo Comandante da Marinha, Almirante Ilques, e pres­ti­gi­a­da pelo Diretor-Presidente do Conselho Nacional de Praticagem, Prático Gustavo Henrique Alves Martins. O even­to tam­bém des­ta­cou a impor­tân­cia, para a comu­ni­da­de marí­ti­ma, das mulhe­res, cele­bra­das este ano no tema do Dia Marítimo Mundial da Organização Marítima Internacional (IMO).

O Juiz-Presidente do Tribunal Marítimo, Almirante Lima Filho, dis­se que o país vive um momen­to de espe­ran­ça, con­tu­do, res­sal­tou que “para a con­cre­ti­za­ção des­se prós­pe­ro por­vir o mar é um pro­ta­go­nis­ta essencial”:

– A inclu­são na agen­da de temas rela­ci­o­na­dos ao desen­vol­vi­men­to do Poder Marítimo, como o incen­ti­vo à cabo­ta­gem e a recen­te cri­a­ção da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Marinha Mercante, traz pers­pec­ti­vas ani­ma­do­ras. Nesse cená­rio, dia­ri­a­men­te, milha­res de embar­ca­ções nave­gam em nos­sas águas juris­di­ci­o­nais e, em que pesem os esfor­ços diu­tur­nos da Marinha do Brasil, seja na nor­ma­ti­za­ção, cons­ci­en­ti­za­ção ou fis­ca­li­za­ção, aci­den­tes ocor­rem, e o Tribunal Marítimo é a Corte res­pon­sá­vel pelo jul­ga­men­to de todos os aci­den­tes e fatos da nave­ga­ção em nos­sas águas.

O Almirante citou con­quis­tas recen­tes do Tribunal, como o trâ­mi­te digi­tal dos pro­ces­sos, uma faci­li­da­de em fase final de implan­ta­ção; e o Boletim de Acidentes Julgados, que leva às comu­ni­da­des marí­ti­ma, náu­ti­ca e por­tuá­ria uma sín­te­se dos prin­ci­pais pro­ces­sos con­cluí­dos, com os ensi­na­men­tos colhi­dos e as reco­men­da­ções pre­ven­ti­vas aos nave­gan­tes. Em seu dis­cur­so, ele tam­bém valo­ri­zou a for­ça femi­ni­na evi­den­ci­a­da no Dia Marítimo Mundial, cujo tema des­te ano visa a des­per­tar cons­ci­ên­cia para a igual­da­de de gênero.

No even­to, as mulhe­res foram repre­sen­ta­das pela Juíza Maria Cristina de Oliveira Padilha, que falou pelos Juízes do Tribunal; pela Tenente Juliana Braga, da Procuradoria Especial da Marinha; e pela Advogada Fabiana Simões Martins, dis­cur­san­do pelos Advogados. Ela fez uma refle­xão sobre os desa­fi­os impos­tos pela tecnologia: 

– Após ser­vir a nos­sa soci­e­da­de no auge dos seus 85 anos, o Tribunal se encon­tra na estra­té­gi­ca posi­ção de guar­dião daqui­lo que as máqui­nas difi­cil­men­te terão: a empa­tia com homens e mulhe­res do mar. Esse é o espí­ri­to, por exem­plo, da Regra 2 do Ripeam, que auto­ri­za homens e mulhe­res do mar a inter­pre­ta­rem e até mes­mo afas­ta­rem todas as demais regras para evi­tar o peri­go de acor­do com as boas prá­ti­cas mari­nhei­ras, o que difi­cil­men­te será con­ce­di­do a um algo­rit­mo, tor­nan­do este Tribunal ain­da mais relevante.

O Comandante da Marinha encer­rou a cerimô­nia e des­ta­cou a impor­tân­cia de se supe­rar ques­tões como o lixo no mar, segun­do ele, cada vez mais uma ame­a­ça à segu­ran­ça da nave­ga­ção; a pes­ca pre­da­tó­ria; e a neces­si­da­de de qualificação:

– O momen­to de inclu­são do Brasil na OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) per­mi­ti­rá que pos­sa­mos com­par­ti­lhar um arran­que do comér­cio e das ati­vi­da­des marí­ti­mas da ordem de 380%. Temos que qua­li­fi­car ain­da mais os nos­sos marí­ti­mos, aqua­viá­ri­os e por­tuá­ri­os. A situ­a­ção e o desen­vol­vi­men­to naci­o­nal impõem essa deman­da. O apartheid tec­no­ló­gi­co nos colo­ca­rá em situ­a­ções extre­ma­men­te mais des­van­ta­jo­sas quan­do com­pa­ra­das ao pas­sa­do recen­te. Estamos dian­te de um desa­fio que ame­a­ça a segu­ran­ça da nave­ga­ção e a sal­va­guar­da da vida huma­na no mar. A cor­re­ta e tem­pes­ti­va apu­ra­ção dos aci­den­tes e fatos da nave­ga­ção, com a devi­da indi­ca­ção dos even­tu­ais res­pon­sá­veis, é impres­cin­dí­vel para a con­se­cu­ção des­sas impor­tan­tes e desa­fi­a­do­ras tarefas.

Prestigiaram o even­to no his­tó­ri­co pré­dio da Corte no Centro do Rio de Janeiro: os Ex-Presidentes do Tribunal Marítimo, Almirantes Ozorio, Correia e Miranda; os Ex-Comandantes da Marinha, Mauro Cesar, Guimarães Carvalho e Moura Neto; o Diretor-Geral de Navegação e Comandante de Operações Navais, Almirante Puntel; o Diretor de Portos e Costas, Almirante Roberto; o Diretor da Procuradoria Especial da Marinha, Almirante Savio; o Ministro do Superior Tribunal Militar, Almirante Carlos Augusto; o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, Claudio de Mello Tavares; o Desembargador André Ricardo Cruz Fontes, repre­sen­tan­do o Tribunal Regional Federal da 2ª Região; o Presidente do Centro dos Capitães da Marinha Mercante, Comandante Alvaro; entre outras auto­ri­da­des do meio jurí­di­co e da comu­ni­da­de marítima.

História

O Tribunal Marítimo é um órgão autô­no­mo, auxi­li­ar do Poder Judiciário e vin­cu­la­do ao Comando da Marinha. Tem como atri­bui­ção jul­gar os aci­den­tes e fatos da nave­ga­ção em todo o ter­ri­tó­rio naci­o­nal, além de man­ter ati­vi­da­des car­to­rá­ri­as, como o Registro da Propriedade Marítima. Suas deci­sões téc­ni­cas têm valor com­pro­ba­tó­rio rele­van­te e ser­vem como emba­sa­men­to para o Poder Judiciário.

A sua cri­a­ção ocor­reu após o bom­bar­deio do car­guei­ro ale­mão Baden pelo Forte da Vigia (atu­al Forte do Leme), que saiu do Rio de Janeiro sem auto­ri­za­ção e igno­ran­do os avi­sos de parar da Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. Sem um órgão espe­ci­a­li­za­do à épo­ca, o caso que pro­vo­cou 22 mor­tes e 55 feri­dos aca­bou jul­ga­do pelo Tribunal Marítimo da Alemanha. O pri­mei­ro pro­ces­so bra­si­lei­ro foi o do nau­frá­gio do cut­ter “Constantinopolis”, no Maranhão, em 1934.