Seminário de hidro­gra­fia atrai prá­ti­cos do Brasil intei­ro e terá nova edição

O I Seminário de Hidrografia Portuária para Práticos, no Rio de Janeiro, atraiu pro­fis­si­o­nais da gran­de mai­o­ria das Zonas de Praticagem, de Norte a Sul do país, além de diver­sas auto­ri­da­des da Marinha do Brasil. Alguns vie­ram de lon­ge, todos inte­res­sa­dos em conhe­cer mais sobre hidro­gra­fia, já que a Praticagem, sen­do espe­ci­a­lis­ta nas águas onde atua, tem sido cada vez mais ouvi­da sobre pro­je­tos por­tuá­ri­os, por con­ta da mai­or deman­da de aces­so dos mega­na­vi­os aos por­tos brasileiros.

Diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha, Almirante Garcez elo­gi­ou a inte­gra­ção dos entes no even­to como úni­ca for­ma de dar res­pos­tas aos desa­fi­os a supe­rar no país:

– O Brasil está aquém dos paí­ses mais desen­vol­vi­dos em algu­mas ini­ci­a­ti­vas, espe­ci­al­men­te no con­cei­to de inte­ra­ção Governo, Indústria e Academia, essen­ci­al para o avan­ço de qual­quer setor. E, no nos­so caso, com voca­ção marí­ti­ma, o trans­por­te marí­ti­mo é cru­ci­al para o desen­vol­vi­men­to da nação. Nenhum des­ses três seto­res podem dar as con­di­ções de com­pe­ti­ti­vi­da­de que pre­ci­sa­mos iso­la­da­men­te. Essa sim­bi­o­se é a gran­de van­ta­gem des­se encon­tro. Temos que ope­rar na mai­or capa­ci­da­de dos nos­sos por­tos, sem igno­rar a segu­ran­ça da nave­ga­ção, e a Praticagem é fun­da­men­tal para que tenha­mos o bai­xís­si­mo índi­ce de aci­den­tes hoje no nos­so país.

Ex-Diretor de Hidrografia e Navegação, o Almirante Paulo César cor­ro­bo­rou as pala­vras do colega:

– Esse encon­tro é mui­to impor­tan­te para essa nova fase que espe­ra­mos do Brasil, com evo­lu­ção da cabo­ta­gem e aber­tu­ra das nos­sas hidro­vi­as para a eco­no­mia nacional.

O núme­ro de ins­cri­tos não sur­pre­en­deu o Diretor Técnico do Conapra, Prático Porthos Lima, que per­ce­beu o inte­res­se sobre o tema duran­te sua par­ti­ci­pa­ção em um con­gres­so em Camboriú, no ano pas­sa­do, repre­sen­tan­do a Presidência:

– A todo momen­to somos cha­ma­dos a opi­nar em pro­je­tos. Como vamos dar opi­nião sem um míni­mo de conhe­ci­men­to téc­ni­co? Para isso, mon­ta­mos esses pai­néis. Queríamos que nos­sos prá­ti­cos tives­sem mais esse emba­sa­men­to, inclu­si­ve sobre sina­li­za­ção vir­tu­al, que é algo total­men­te novo.

Ao encer­rar o even­to, o Diretor-Presidente do Conapra, Prático Gustavo Martins, dis­se que o assun­to não se esgo­tou e anun­ci­ou a rea­li­za­ção de uma segun­da edi­ção em 2019:

– Todos os pon­tos apre­sen­ta­dos foram mui­to impor­tan­tes. Vamos con­ti­nu­ar nos reu­nin­do. Temos mui­to a cami­nhar. O pró­xi­mo semi­ná­rio já é uma rea­li­da­de. Vamos tra­ba­lhar para que nos­sos por­tos con­ti­nu­em extre­ma­men­te segu­ros e cada vez mais efi­ci­en­tes. Estaremos pron­tos para o futu­ro que os gran­des navi­os vão trazer.

Entre outas auto­ri­da­des, tam­bém esti­ve­ram pre­sen­tes os Almirantes Palmer e Ferreira de Lima, além do Comandante Sebastião, dire­tor do Centro de Hidrografia da Marinha.

Como foram os painéis

O Tenente Marinhos, do Centro de Auxílios à Navegação Almirante Moraes Rego (CAMR) da Marinha, ini­ci­ou as pales­tras falan­do sobre esta­be­le­ci­men­to, alte­ra­ção e can­ce­la­men­to de auxí­li­os à nave­ga­ção e sobre como a Praticagem pode asses­so­rar a Autoridade Marítima na aná­li­se da ade­qua­bi­li­da­de des­ses pro­je­tos, em prol da segu­ran­ça. Conforme pre­vê a Normam 17-DHN, todo pro­je­to de bali­za­men­to deve ser ana­li­sa­do pela Praticagem antes do seu envio à Diretoria de Hidrografia e Navegação.

Em segui­da, o Professor Eduardo Tannuri, Coordenador do Centro de Simulações do labo­ra­tó­rio Tanque de Provas Numérico da USP, apre­sen­tou dife­ren­tes usos de simu­la­do­res na ava­li­a­ção de pro­je­tos de bali­za­men­to, como na demar­ca­ção de áre­as dra­ga­das; na com­pa­ti­bi­li­za­ção de navi­os de múl­ti­plos por­te; na uti­li­za­ção de boi­as arti­cu­la­das; entre outros.

Ainda na par­te da manhã, o Comandante Adriano Silveira, do Centro de Hidrografia da Marinha, trou­xe os prin­ci­pais pro­ble­mas encon­tra­dos na aná­li­se de levan­ta­men­tos hidro­grá­fi­cos da cate­go­ria “A”, que são apro­vei­ta­dos na atu­a­li­za­ção dos docu­men­tos náu­ti­cos, entre eles as car­tas náu­ti­cas. Práticos são cha­ma­dos a opi­nar após levan­ta­men­tos de fim de dra­ga­gem e, antes mes­mo de sua imple­men­ta­ção, devem vali­dá-la em simu­la­ções. De acor­do com o coman­dan­te, a fal­ta de for­ma­ção no Brasil, mui­tas vezes, afe­ta a qua­li­da­de dos levan­ta­men­tos recebidos.

– Infelizmente, ape­nas a DHN for­ma hidró­gra­fos no país. Seria bom que tivés­se­mos outros centros.

Na sequên­cia, o Comandante Helder Luiz Puia des­ta­cou a agi­li­da­de dos inves­ti­men­tos em hidro­gra­fia na Praticagem de Santos, da qual é um dos geren­tes, e a sua impor­tân­cia para a segurança.

Sinalização vir­tu­al

Após o almo­ço, o tema foi bali­za­men­to vir­tu­al. O Comandante Hermann Adolph Sattler, do CAMR da Marinha, elen­cou as apli­ca­ções pos­sí­veis de auxí­li­os vir­tu­ais à nave­ga­ção (AtoN Virtuais), como em áre­as onde é impos­sí­vel um auxí­lio físi­co; quan­do o auxí­lio está fora de posi­ção; para mar­car um nau­frá­gio etc. Ele fri­sou que a sua implan­ta­ção deve con­si­de­rar todos os aspec­tos ope­ra­ci­o­nais rele­van­tes e pres­cin­dir de uma aná­li­se de ris­co criteriosa.

Na Praticagem da Barra do Pará, o sis­te­ma foi implan­ta­do com suces­so há seis meses, ao lon­go do Rio Pará. Da esta­ção da Praticagem, tor­res emi­tem sinais indi­can­do a pre­sen­ça das boi­as vir­tu­ais para as embar­ca­ções. O Prático Evandro Simas Abi Saab, pre­si­den­te da Praticagem, expli­cou os moti­vos para terem ado­ta­do o recurso:

– A Praticagem viven­ci­ou mui­tas difi­cul­da­des no bali­za­men­to real. As boi­as repo­si­ci­o­na­das sofri­am van­da­lis­mo. Além dis­so, a exten­são e a dis­tân­cia do canal difi­cul­ta­vam a manu­ten­ção das mes­mas. Outro moti­vo é a difí­cil visu­a­li­za­ção em épo­ca de chu­vas na região, que cha­ma­mos de aguaceiros.

O Comandante Plinio Brayner Neto, que foi dire­tor do Centro de Hidrografia e Navegação do Norte, tra­tou do futu­ro da tec­no­lo­gia e de seus aspec­tos nor­ma­ti­vos, incluin­do a solu­ção encon­tra­da para o seu fun­ci­o­na­men­to no Rio Pará. A neces­si­da­de foi apon­ta­da pela pró­pria Praticagem à Capitania dos Portos.

Praticagem nas simulações

No últi­mo pai­nel, foram qua­tro pales­tras sobre mode­la­gem de fato­res ambi­en­tais para uti­li­za­ção em simu­la­ções de pro­je­tos que con­tam com a par­ti­ci­pa­ção do conhe­ci­men­to téc­ni­co dos prá­ti­cos na sua realização.

Gabriel Carvalhaes Aloi Paschoal, da Hidromares Oceanografia, dis­cri­mi­nou as dife­ren­tes meto­do­lo­gi­as para medi­ção de cor­ren­tes, ondas e ventos.

– Sem a medi­ção de dados, simu­la­ções viram qua­se que vide­o­ga­mes. Por isso, foi impor­tan­te come­çar­mos por este tema.

O Professor João Thadeu Menezes, Presidente da Associação Brasileira de Oceanografia (Aoceano), lem­brou que ain­da exis­te pou­ca cul­tu­ra na cole­ta de dados, mas que, feliz­men­te, isso está mudan­do. Ele falou sobre a impor­tân­cia da cali­bra­ção dos dados nas simu­la­ções náu­ti­cas, mos­trou como é o pro­ces­so de cons­tru­ção do mode­lo visu­al de um navio no simu­la­dor e res­sal­tou a par­ti­ci­pa­ção dos prá­ti­cos nes­ses exercícios:

– Vocês, prá­ti­cos, são as pes­so­as mais indi­ca­das para tes­tar qual­quer simu­la­dor, de acor­do com a per­cep­ção sobre as con­di­ções ambi­en­tais do por­to em que operam.

Lucas Silveira, da SLI Coastal Solutions, endos­sou esse supor­te da Praticagem, em sua pales­tra sobre mode­la­gem ambi­en­tal para simu­la­ções de manobras:

– O simu­la­dor é a fer­ra­men­ta ide­al para enten­der como o navio e o ambi­en­te inte­ra­gem, e escla­re­cer a res­pos­ta para uma mano­bra. A Praticagem, como espe­ci­a­lis­ta, ori­en­ta o tra­ba­lho para cer­ti­fi­car a con­sis­tên­cia dos resultados.

O Comandante José Guilherme Thomy, que foi pes­qui­sa­dor do Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH), fechou o semi­ná­rio e tam­bém men­ci­o­nou a con­tri­bui­ção efe­ti­va da Praticagem na simu­la­ção dos pro­je­tos. Segundo ele, pro­mo­ver conhe­ci­men­to hidro­grá­fi­co atu­a­li­za­do de for­ma sis­tê­mi­ca é inves­ti­men­to em segu­ran­ça e eficiência:

– O Brasil é um país de super­la­ti­vos e isso impac­ta no pla­ne­ja­men­to estra­té­gi­co dos nos­sos canais de nave­ga­ção. Temos que apro­vei­tar todo nos­so poten­ci­al em rea­li­za­ções. E o conhe­ci­men­to da área geo­grá­fi­ca e das con­di­ções ambi­en­tais é pre­mis­sa para qual­quer pro­je­to. Por isso, a impor­tân­cia da hidrografia.