No Pará, balizamento virtual já é realidade em prol da segurança

Do radar e da tela de um ECDIS (car­ta ele­trô­ni­ca) no navio, o prá­ti­co visu­a­li­za o sinal de uma boia que não está fisi­ca­men­te no local apon­ta­do. Este sinal ele­trô­ni­co de AIS (Automatic Identification System) é cha­ma­do de AtoN Virtual, do inglês Virtual Aids to Navigation, ou Auxílio Virtual à Navegação, e nada mais é do que uma boia vir­tu­al. O sis­te­ma de bali­za­men­to vir­tu­al é uma novi­da­de, mas já é rea­li­da­de no Pará e foi apre­sen­ta­do no I Seminário de Hidrografia Portuária para Práticos, no Rio de Janeiro, rea­li­za­do pelo Conselho Nacional de Praticagem (Conapra) e pela Praticagem do Rio de Janeiro.

Na Zona de Praticagem 03, sua implan­ta­ção há seis meses – des­de a Boca das Onças até a foz do Rio Pará – foi uma neces­si­da­de de segu­ran­ça. Boias reais sofri­am van­da­lis­mo. Além dis­so, a exten­são dos canais difi­cul­ta­va a manu­ten­ção das mes­mas. Outro moti­vo é a difi­cul­da­de de visu­a­li­za­ção dos auxí­li­os em épo­ca de agua­cei­ros, comuns na região.

– Em tem­pes­ta­des, é mui­to difí­cil loca­li­zar uma boia real, tan­to no radar quan­to no cam­po visu­al – expli­ca o Prático Evandro Simas Abi Saab, pre­si­den­te da Praticagem da Barra do Pará.

Para se ter ideia, o Canal do Espadarte che­gou a ficar mais de um ano sem boia. Hoje, con­ta com seis, sen­do cin­co vir­tu­ais. Já no Canal do Quiriri, duas das oito boi­as são virtuais.

Da esta­ção ope­ra­ci­o­nal da Praticagem, qua­tro tor­res de AIS-VHF emi­tem os sinais das boi­as vir­tu­ais visu­a­li­za­dos pelos navi­os, que são isen­tos de erros de GPS. O moni­to­ra­men­to é em tem­po real. Isso sig­ni­fi­ca que, se uma boia per­de o sinal, ime­di­a­ta­men­te são emi­ti­dos, na esta­ção, um alar­me e um avi­so na tela.

– O prá­ti­co não tem sur­pre­sas de bali­za­men­to, como uma boia apa­ga­da ou fora de posi­ção, coi­sas que só des­co­bri­mos, geral­men­te, quan­do esta­mos a bor­do, na pior situ­a­ção – lem­bra o Prático Evandro.

O sis­te­ma é ver­sá­til. Pode ser uti­li­za­do para demar­car nau­frá­gi­os, novos ban­cos de areia em rios, posi­ci­o­na­men­to para embar­que de prá­ti­co, sina­li­za­ção pro­vi­só­ria de refe­rên­cia para a nave­ga­ção etc. Sinais podem ser con­fi­gu­ra­dos pre­vi­a­men­te e liga­dos a qual­quer momen­to, agi­li­zan­do o tem­po de res­pos­ta em caso de necessidade.

– Nós enten­de­mos que toda tec­no­lo­gia dis­po­ní­vel deve ser usa­da em prol da segu­ran­ça da nave­ga­ção. Existem diver­sas apli­ca­ções para esse tipo de sinal, mas sua uti­li­za­ção deve seguir deter­mi­na­dos cri­té­ri­os e exi­ge pla­ne­ja­men­to minu­ci­o­so, como foi fei­to pela Praticagem do Pará. O Conselho Técnico do Conapra con­ti­nu­a­rá estu­dan­do o assun­to e incen­ti­va as Praticagens Brasileiras a faze­rem o mes­mo, levan­do em con­si­de­ra­ção essa pos­si­bi­li­da­de ao ana­li­sar pro­je­tos de bali­za­men­to – diz o Diretor Técnico do Conapra, Prático Porthos Lima.

Segundo o Comandante Hermann Adolph Sattler, do Centro de Auxílios à Navegação Almirante Moraes Rego (CAMR) da Marinha, a implan­ta­ção des­se tipo de bali­za­men­to deve con­si­de­rar todos os aspec­tos ope­ra­ci­o­nais rele­van­tes e pres­cin­dir de uma aná­li­se de ris­co cri­te­ri­o­sa, por­que o núme­ro de sinais por equi­pa­men­to em cada tor­re é limi­ta­do, como fri­sou duran­te o seminário:

– É pre­ci­so aten­ção ao pla­ne­jar essa rede. Os auxí­li­os visu­ais não devem ser des­car­ta­dos, mas com­ple­men­ta­dos pelos AtoNs Virtuais.