Representando o senador Wellington Fagundes (PR-MT), o presidente do Instituto Brasil Logística, Tiago Pereira Lima, lembrou que mais de 90% do comércio exterior brasileiro passa pelos portos e que 44% da exportação são commodities, mas apenas 16% dos produtores têm capacidade de armazenagem.
– Muitos produtores acabam armazenando suas cargas nos caminhões. Esse é um dos desafios para o próximo governo, porque a nossa produção não para de crescer.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça Marco Buzzi citou outro gargalo a superar:
– O incremento no volume de cargas transportado traz naturalmente mais conflitos. Temos uma única vara especializada em Direito Marítimo. E, apesar de toda produtividade do juiz brasileiro, a Justiça não dá conta dos processos no mundo inteiro, pela judicialização dos problemas. Então, a mediação é necessária e vem ganhando espaço, inclusive, nos contratos marítimos, o que demonstra uma mudança de mentalidade.
O desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região Theophilo Miguel Filho trouxe um caso de conflito histórico entre Bolívia e Chile por acesso ao mar, em que a Corte Internacional foi chamada para buscar uma solução pacífica.
Diretor de Portos e Costas da Marinha do Brasil, Almirante Roberto abriu o evento e destacou o convívio profissional com os Práticos. Ele que assumiu em abril já visitou cinco entidades de Praticagem.
– Os Práticos são tecnicamente muito bem preparados e desempenham uma atividade imprescindível em todo o território nacional –elogiou o representante da Autoridade Marítima, que defendeu ainda a importância da escala de trabalho para manutenção do serviço ininterrupto, da qualificação profissional e prevenção da fadiga.
O gerente de Frota e da Central de Operação da Wilson Sons Rebocadores, Pedro Lima, contou que também tem visitado as Praticagens para maior interação nas manobras e apresentou aos participantes a estrutura da empresa em todo o país.
Na parte da tarde, foram discutidos temas voltados ao gerenciamento do risco. O Diretor Técnico do Conapra, Prático Porthos Lima, mostrou aos colegas como é simples o uso do aplicativo No Rumo Certo, tão importante para a segurança no momento crítico que é a transferência do Prático da lancha de Praticagem para o navio, e vice-versa. Por meio do App, é possível enviar informações sobre o estado dos arranjos de embarque e desembarque, relatar deficiências operacionais das embarcações e ocorrências com rebocadores. Os relatórios podem ser enviados imediatamente a autoridades cadastradas e esse histórico fica disponível para consulta antes de cada manobra.
– O sucesso dessa ferramenta depende da colaboração de todos nós Praticos.
O pesquisador Marcos Coelho Maturana apresentou o trabalho proposto pela Praticagem e em andamento no Laboratório de Análise, Avaliação e Gerenciamento de Risco da USP, que vai identificar a contribuição de cada fator humano para a ocorrência de eventos indesejados, como acidentes. O projeto está no oitavo mês de desenvolvimento. Os pesquisadores já coletaram dados em manobras no laboratório Tanque de Provas Numérico da USP; com os próprios Práticos e comandantes envolvidos nessas simulações; e em manobras que acompanharam no Porto de Santos.
O Prático Helio Takahiro Sinohara, da ZP-17 (Paranaguá), fez um levantamento das pesquisas com navios autônomos no mundo e expôs uma série de questões que precisam ser refletidas a respeito de embarcações sem tripulação:
– Se por um lado a tecnologia pode diminuir o erro humano por outro introduz novos riscos. E, com um navio, as consequências econômicas, ambientais e para a vida humana são bem piores do que com um Uber sem motorista, por exemplo. O risco é muito maior em área de Praticagem. E se o fundo de um canal muda como acontece na Amazônia?
Os Práticos Luiz Antonio Raymundo da Silva, da ZP-15 (Rio de Janeiro), e Pedro Henrique Parente, da ZP-05 (Fortaleza), fecharam o dia com palestras sobre o treinamento que fizeram em modelos reduzidos no Panamá e nos EUA, respectivamente, mais um esforço da Praticagem para lidar com os desafios impostos pelos meganavios.
– É um treinamento intenso, feito em duplas, em que cada um exerce a função de prático e timoneiro alternadamente. Dá para sentir o erro de forma bem diferente da de um simulador full mission. Eles fazem vários tipos de treinamento, como manobras com vento, cruzamento de navios e atracação e desatracação, mas ajustam de acordo com as demandas dos capacitados – contou Luiz Antonio.
Nos EUA, o Prático Pedro Henrique falou que são dois dias de simulação virtual e aulas teóricas, além de três dias de treinamento em modelos reduzidos. Ele aproveitou também para exibir casos de encalhes com meganavios em diferentes países e até um abalroamento.
O 42º Encontro Nacional de Praticagem teve ainda palestra do presidente da Record TV, Luiz Cláudio Costa, que mostrou a importância da checagem e rechecagem de fatos em fontes confiáveis em qualquer área de atuação, principalmente em tempos defake news. Antes de sua apresentação, foi exibido um vídeo da Praticagem que está sendo veiculado na programação da emissora, em homenagem ao Dia do Marinheiro (13 de dezembro).
Durante o evento, também foi assinado convênio com a Praticagem do Uruguai para troca de experiências no Brasil no Curso de Atualização para Práticos (ATPR), a exemplo do que já foi feito com colegas de Angola, México e Argentina.