PRATICAGEM LANÇA SIMULADOR DE PADRÃO MUNDIAL EM BRASÍLIA

A Praticagem do Brasil inau­gu­rou, na ter­ça-fei­ra (14/12), em Brasília, um cen­tro de simu­la­ções de padrão mun­di­al, que incor­po­ra diver­sas faci­li­da­des de enge­nha­ria para ava­li­a­ção de pro­je­tos aqua­viá­ri­os e por­tuá­ri­os, além dos recur­sos para trei­na­men­to dos prá­ti­cos. O espa­ço ofe­re­ce o que há de mais moder­no em simu­la­dor de pas­sa­di­ço para mano­bras de navi­os e foi implan­ta­do em par­ce­ria com o Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP), refe­rên­cia inter­na­ci­o­nal nes­se tipo de tec­no­lo­gia. O even­to reu­niu prá­ti­cos de todo o Brasil, auto­ri­da­des marí­ti­mas e por­tuá­ri­as, repre­sen­tan­tes da indús­tria do ship­ping e mem­bros do Executivo e do Legislativo. 

– Implantamos este ins­ti­tu­to aqui, no Planalto Central, com o obje­ti­vo de apro­xi­mar esta impor­tan­te fer­ra­men­ta de estu­dos das auto­ri­da­des que deci­dem sobre os pro­je­tos aqua­viá­ri­os e por­tuá­ri­os no Brasil. Em espe­ci­al, a Marinha do Brasil, o Ministério da Infraestrutura, a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) e o Congresso Nacional. Essa pro­xi­mi­da­de tra­rá mais agi­li­da­de e asser­ti­vi­da­de na ava­li­a­ção de aces­sos aqua­viá­ri­os, implan­ta­ção de novos ter­mi­nais e ope­ra­ção com embar­ca­ções mai­o­res. Todos esses estu­dos para vali­da­ção de pro­je­tos con­tam com a par­ti­ci­pa­ção de prá­ti­cos, em fun­ção da nos­sa exper­ti­se na con­du­ção dos navi­os em áre­as res­tri­tas e do conhe­ci­men­to que temos des­sas águas – afir­mou o pre­si­den­te da Praticagem do Brasil, prá­ti­co Ricardo Falcão.

O cen­tro de trei­na­men­to e ava­li­a­ção aqua­viá­ria está ins­ta­la­do a pou­cos minu­tos da Praça dos Três Poderes. Além do acom­pa­nha­men­to téc­ni­co de pro­je­tos pelas enti­da­des regu­la­do­ras das ati­vi­da­des marí­ti­mas e por­tuá­ri­as, a loca­li­za­ção favo­re­ce a vin­da para trei­na­men­to de prá­ti­cos das 21 zonas de pra­ti­ca­gem brasileiras.

– Essa ini­ci­a­ti­va vai ao encon­tro daqui­lo que a Marinha pre­ga: a segu­ran­ça da nave­ga­ção. Ao visi­tar o simu­la­dor, eu vi um equi­pa­men­to de pon­ta que será impor­tan­te para a reci­cla­gem dos prá­ti­cos e o apri­mo­ra­men­to de cada mano­bra rea­li­za­da, tra­zen­do agi­li­da­de e efi­ci­ên­cia nas ope­ra­ções. Isso cer­ta­men­te vai fazer da nos­sa pra­ti­ca­gem mais segu­ra do que ela já é – dis­se o dire­tor geral de Navegação da Marinha, almi­ran­te de esqua­dra Wladmilson Borges de Aguiar, que apro­vei­tou para para­be­ni­zar os prá­ti­cos pela resi­li­ên­cia na pandemia.

Prof Tannuri, o dire­tor Bruno Fonseca, o pre­si­den­te da IMPA Simon Pelletier e o pre­si­den­te Falcão.

O cam­po de visão do pas­sa­di­ço, de apro­xi­ma­da­men­te 290 graus, é for­ma­do por 14 telas de 65 pole­ga­das, sen­do três tra­sei­ras. O mode­lo mate­má­ti­co, o mes­mo ado­ta­do no TPN-USP, repro­duz fiel­men­te a ação de ondas, ven­tos, cor­ren­tes e marés, além de efei­tos hidro­di­nâ­mi­cos que afe­tam a mano­bra­bi­li­da­de das embar­ca­ções. O pro­fes­sor Eduardo Tannuri, res­pon­sá­vel téc­ni­co pelo pro­je­to, des­ta­cou a par­ce­ria de mais de dez anos com Praticagem do Brasil, que já con­tri­buiu para for­mar mais de 20 mes­tres e doutores:

– Adotamos a solu­ção de telas ver­ti­cais, em linha com os novos simu­la­do­res do mun­do. Estamos no esta­do da arte em ambi­en­ta­ção e rea­lis­mo das mano­bras. Esse é mais um pas­so de mui­tos outros que virão com o ter­mo de coo­pe­ra­ção que assinamos.

As ins­ta­la­ções per­mi­tem simu­lar com pre­ci­são qual­quer tipo de mano­bra, além de situ­a­ções espe­cí­fi­cas que não são pos­sí­veis no dia a dia, pelo ris­co envol­vi­do. Também podem ser simu­la­das ope­ra­ções como aumen­to no por­te de embar­ca­ções, novas rotas flu­vi­ais e implan­ta­ção de ter­mi­nais marí­ti­mos. O espa­ço vai rece­ber ain­da mais um simu­la­dor pare­ci­do, com mais ino­va­ções, e outro que simu­la a ação dos rebo­ca­do­res que auxi­li­am os prá­ti­cos nas mano­bras. Também está pre­vis­to um ver­da­dei­ro big data com infor­ma­ções e ima­gens em tem­po real das pra­ti­ca­gens espa­lha­das em todo o país.

O pre­si­den­te da Associação Internacional de Práticos Marítimos (IMPA), prá­ti­co Simon Pelletier, veio do Canadá para pres­ti­gi­ar a inau­gu­ra­ção e afir­mou não conhe­cer mui­tas ini­ci­a­ti­vas como essa ao redor do mundo:

– Não há mui­tas asso­ci­a­ções de prá­ti­cos que tenham desen­vol­vi­do um cen­tro como esse. O que se fez aqui no Brasil é algo real­men­te impres­si­o­nan­te. Um nível de pro­fis­si­o­na­lis­mo que mere­ce ser reconhecido. 

Para o dire­tor da Antaq, Adalberto Tokarski, a pra­ti­ca­gem, ao pro­ver mais simu­la­do­res, con­tri­bui para o trei­na­men­to, a segu­ran­ça da nave­ga­ção e para que os pro­je­tos no Brasil avan­cem mais rapidamente: 

– Quanto mais ins­ti­tui­ções séri­as pos­sam ofe­re­cer essas fer­ra­men­tas ganha a soci­e­da­de por­tuá­ria e de navegação.

O dire­tor-pre­si­den­te da Santos Port Authority (SPA), Fernando Biral, refor­çou a impor­tân­cia das fer­ra­men­tas de simu­la­ção dian­te da ten­dên­cia de aumen­to do tama­nho das embar­ca­ções. O Porto de Santos, inclu­si­ve, já foi homo­lo­ga­do para rece­ber os con­têi­ne­ros de 366 metros de comprimento: 

– Alguns canais de aces­so aqua­viá­ri­os no Brasil não são tão pro­pí­ci­os à nave­ga­ção des­sas gran­des embar­ca­ções. Muitas das mano­bras rea­li­za­das no canal de Santos, por exem­plo, são com­ple­xas e pre­ci­sam ser simu­la­das e estu­da­das para se tor­nar seguras. 

O sena­dor Lucas Barreto lem­brou que o seu esta­do, o Amapá, pode­rá rece­ber navi­os da clas­se New Panamax, com 105 mil tone­la­das de car­ga, gra­ças a simu­la­ções rea­li­za­das em 2020 no TPN-USP. Segundo ele, o tra­ba­lho e os inves­ti­men­tos da pra­ti­ca­gem são fun­da­men­tais para a pre­ser­va­ção da Amazônia:

– Esse equi­pa­men­to que se inau­gu­ra hoje é tão impor­tan­te quan­to a atu­a­ção da pra­ti­ca­gem. Com esses navi­os mai­o­res, mais do que nun­ca pre­ci­sa­mos dos prá­ti­cos e da Marinha cui­dan­do do meio ambi­en­te. Um aci­den­te na foz do Rio Amazonas, por exem­plo, seria uma catás­tro­fe ambi­en­tal no mai­or estuá­rio do mundo.

O depu­ta­do fede­ral Doutor Jaziel (CE) ficou impres­si­o­na­do com o que viu: 

– Eu ouvia falar da pra­ti­ca­gem. A gen­te sabe que exis­te essa cate­go­ria de pes­so­as que fazem esse tra­ba­lho e levam nos­sas rique­zas para o exte­ri­or e para den­tro do nos­so pró­prio país. Mas isso aqui é uma coi­sa mui­to gran­di­o­sa. Saio com a cer­te­za de que é mui­to mai­or do que eu pen­sa­va. A gen­te não tem esse conhe­ci­men­to das entre­li­nhas da pra­ti­ca­gem, mas já pos­so enten­der que é algo extre­ma­men­te res­pon­sá­vel, que se faz com segu­ran­ça, tec­no­lo­gia e abne­ga­ção. Vejo um ver­da­dei­ro labo­ra­tó­rio asso­ci­a­do com a melhor uni­ver­si­da­de do país, que traz para cá uma manei­ra de pre­pa­rar e reci­clar pes­so­as para exer­cer essa tão nobre profissão.

O ex-depu­ta­do fede­ral Luiz Carlos Hauly (PR), por sua vez, res­sal­tou a impor­tân­cia da pra­ti­ca­gem ao lon­go da his­tó­ria para a eco­no­mia do país:

– A pra­ti­ca­gem é uma cate­go­ria pro­fis­si­o­nal de eli­te regu­la­men­ta­da há mais de 200 anos. Na medi­da que o Brasil cres­ceu, a ati­vi­da­de sem­pre este­ve pre­sen­te aju­dan­do na movi­men­ta­ção das nos­sas impor­ta­ções e exportações.

De manhã, antes da cerimô­nia, o cen­tro de simu­la­ções de mano­bras do Instituto Praticagem do Brasil ain­da foi pal­co do lan­ça­men­to dos livros do pro­fes­sor Edson Mesquita, pre­cur­sor dos simu­la­do­res no Brasil. “A mano­bra­bi­li­da­de do navio no sécu­lo 21” e “Princípios de hidro­di­nâ­mi­ca e a ação das ondas — sobre o movi­men­to do navio” atraí­ram deze­nas de con­vi­da­dos para a ses­são de autógrafos.