I Seminário Brasileiro de Hidrografia Portuária dis­cu­te os desa­fi­os da atividade

O I Seminário Brasileiro de Hidrografia Portuária atraiu, em 9 de outu­bro, cer­ca de 200 pes­so­as na Escola de Guerra Naval (RJ). Realizado pela Sociedade Brasileira de Hidrografia (SBHidro) e pela Praticagem do Brasil, o even­to cum­priu o pro­pó­si­to de pro­mo­ver a tro­ca de infor­ma­ções, o deba­te e a inte­gra­ção entre Governo, Academia e Empresas; divul­gan­do uma ati­vi­da­de que esta­rá cada vez mais em evi­dên­cia dian­te de desa­fi­os do setor no país.

O Diretor-Presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), Prático Gustavo Henrique Alves Martins, fez a aber­tu­ra do semi­ná­rio e dis­se que o conhe­ci­men­to do nos­so lei­to mari­nho se tor­na ain­da mais rele­van­te quan­do se pen­sa no futu­ro pro­je­ta­do do dobro de movi­men­ta­ção de car­ga nos nos­sos portos:

– Por eco­no­mia de esca­la, temos navi­os de por­te e dimen­sões cada vez mai­o­res deman­dan­do os nos­sos por­tos e a neces­si­da­de pre­men­te de moder­ni­zar e ampli­ar a nos­sa infra­es­tru­tu­ra portuária.

Representando o Comando da Marinha do Brasil, o Diretor-Geral de Navegação, Almirante Campos, falou em segui­da e com­par­ti­lhou da mes­ma preocupação:

– Quando a Família Real veio para o Brasil, ela trou­xe todo o conhe­ci­men­to de nave­ga­ção em uma de suas naus. Isso mos­tra a impor­tân­cia des­sa rique­za des­de essa épo­ca. Hoje, em meio ao avan­ço tec­no­ló­gi­co ver­ti­gi­no­so apli­ca­do à hidro­gra­fia e à cons­tan­te deman­da por espa­ço e cala­do dos navi­os, tudo con­cor­re para tor­nar cada vez mais crí­ti­ca a aten­ção com a segu­ran­ça da nave­ga­ção. É pre­ci­so que todos se cons­ci­en­ti­zem disso.

O Diretor-Presidente da SBHidro, Almirante Palmer, res­sal­tou que a cri­a­ção da enti­da­de e a rea­li­za­ção do Hidroportos vão jus­ta­men­te ao encon­tro do obje­ti­vo de cons­ci­en­ti­zar a soci­e­da­de bra­si­lei­ra sobre o tema:

– O cor­re­to conhe­ci­men­to do fun­do mari­nho é indis­pen­sá­vel para a eco­no­mia, segu­ran­ça, defe­sa, pre­ser­va­ção ambi­en­tal e pes­qui­sa cien­tí­fi­ca em nos­sas águas. E a hidro­gra­fia vol­ta­da para a área por­tuá­ria, onde a nave­ga­ção é mais difí­cil, tem que ser difun­di­da e deba­ti­da, pois não se exer­ce bem uma ati­vi­da­de que não se conhe­ce. O avan­ço tec­no­ló­gi­co no seg­men­to é enor­me e pre­ci­sa­mos estar atu­a­li­za­dos para ser­mos competitivos.

O Diretor Assistente da Organização Hidrográfica Internacional (OHI), Comandante Alberto Pedrassani Costa Neves, lem­brou que até a Conferência Marítima Internacional, em 1889, não havia coo­pe­ra­ção entre paí­ses e o conhe­ci­men­to do mar era tra­ta­do como segre­do de Estado. Em sua pales­tra, ele expôs o tra­ba­lho do orga­nis­mo inter­go­ver­na­men­tal na defi­ni­ção de padrões para car­tas náu­ti­cas, levan­ta­men­tos hidro­grá­fi­cos e até nor­mas de com­pe­tên­ci­as de hidró­gra­fos. Atualmente, está se dis­cu­tin­do um novo mode­lo uni­ver­sal, para aten­der às deman­das apre­sen­ta­das na OHI.

– É mui­to impor­tan­te a par­ti­ci­pa­ção de todas as par­tes inte­res­sa­das. Os padrões con­tri­bu­em para a segu­ran­ça da nave­ga­ção, a pro­te­ção do meio ambi­en­te, a pes­qui­sa e o desen­vol­vi­men­to econô­mi­co. A SBHidro tem o poten­ci­al para inte­grar os esfor­ços naci­o­nais para que o Brasil se bene­fi­cie dos padrões e das nor­mas da OHI – afirmou.

Ex-Diretor do Centro de Hidrografia da Marinha e do Centro de Auxílios à Navegação Almirante Moraes Rego, o Almirante Augusto abor­dou a evo­lu­ção dos levan­ta­men­tos hidro­grá­fi­cos, do pla­no car­to­grá­fi­co bra­si­lei­ro e da pro­du­ção car­to­grá­fi­ca, impac­ta­da for­te­men­te pela mudan­ça tec­no­ló­gi­ca nos levan­ta­men­tos. Ele fri­sou ain­da a rele­vân­cia do moni­to­ra­men­to por sen­so­res ambi­en­tais para a segu­ran­ça aquaviária:

– O sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co em imple­men­ta­ção no Brasil, por exem­plo, é um recur­so mui­to impor­tan­te e não exis­te sem um moni­to­ra­men­to ambi­en­tal em tem­po real.

Diretor Científico da SBHidro, o pro­fes­sor Arthur Ayres Neto mos­trou a con­tri­bui­ção das uni­ver­si­da­des para a hidrografia:

– A Academia já faz bas­tan­te pela hidro­gra­fia, não ape­nas a Marinha, mas as pes­so­as não sabem dis­so. Geologia, Geofísica Marinha e Oceanografia são ciên­ci­as que tra­tam das carac­te­rís­ti­cas dos mares, da inte­ra­ção do oce­a­no com a área cos­tei­ra, entre outros temas afins. Temos oce­a­nó­gra­fos e geó­lo­gos tra­ba­lhan­do com hidro­gra­fia no Brasil e vári­as ins­ti­tui­ções pro­du­zin­do tra­ba­lhos e for­man­do oce­a­nó­gra­fos e car­tó­gra­fos todo ano. O obje­ti­vo é tra­zer­mos todos os ato­res para o mes­mo fórum de dis­cus­são e falar­mos a mes­ma língua.

O even­to na Escola de Guerra Naval foi pres­ti­gi­a­do pelo Ministério da Infraestrutura. A Diretora Substituta no Departamento de Navegação e Hidrovias da Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Karênina Martins Teixeira Dian, des­ta­cou que o semi­ná­rio con­tri­bui para supe­rar pon­tos como o da infra­es­tru­tu­ra por­tuá­ria. Ela apre­sen­tou as ações do gover­no fede­ral no setor.

– Temos mos­tra­do o valor da nave­ga­ção para o Brasil. Com a cri­a­ção do Departamento de Navegação e Hidrovias, ago­ra temos todo um cor­po téc­ni­co dedi­ca­do a essas ques­tões. A Secretaria defi­ne o pla­ne­ja­men­to e as obras pri­o­ri­tá­ri­as, mas a exe­cu­ção pas­sou ao Dnit, inclu­si­ve os con­tra­tos de dra­ga­gem – dis­se a dire­to­ra, que citou ain­da as ações de deses­ta­ti­za­ção, arren­da­men­tos por­tuá­ri­os e de incen­ti­vo à cabotagem.

Na par­te da tar­de, o públi­co se divi­diu em ses­sões inte­ra­ti­vas simul­tâ­ne­as sobre: “A nova estru­tu­ra de for­ma­tos car­to­grá­fi­cos — pers­pec­ti­vas e desa­fi­os para os por­tos bra­si­lei­ros”; “A efi­ci­ên­cia e a segu­ran­ça das ope­ra­ções aqua­viá­ri­as — a con­tri­bui­ção da hidro­gra­fia”; “Inovações tec­no­ló­gi­cas”; e “A for­ma­ção de um hidró­gra­fo — pers­pec­ti­vas para o setor aca­dê­mi­co”. Os Práticos Porthos Lima, Diretor Técnico do Conapra, e Siegberto Schenk, Conselheiro Técnico do Conapra, foram medi­a­do­res da dis­cus­são com espe­ci­a­lis­tas em dois painéis.

O Prático Gustavo Martins fez uma pales­tra sobre a atu­a­ção da Isobática Serviços Marítimos – empre­sa do gru­po da Praticagem do Paraná que dá supor­te à ati­vi­da­de em ser­vi­ços como bati­me­tria – e sobre téc­ni­cas moder­nas de pro­je­tos de aces­sos náu­ti­cos com base no Relatório 121/2014 da PIANC (Associação Mundial de Infraestrutura de Transporte Marítimo), que pre­co­ni­za o planejamento:

– Não adi­an­ta per­gun­tar na che­ga­da do navio se o canal de aces­so está pron­to ou não. É pre­ci­so um pla­ne­ja­men­to pré­vio em con­jun­to. Temos desa­fi­os como pre­vi­são do dobro de movi­men­ta­ção de car­ga, cres­ci­men­to das dimen­sões dos navi­os, pou­cos recur­sos para ampli­ar a infra­es­tru­tu­ra, aumen­to da efi­ci­ên­cia das ope­ra­ções e pre­ser­va­ção do meio ambi­en­te. Por isso, pre­ci­sa­mos levar a sério as reco­men­da­ções da Pianc, implan­tar sen­so­res ambi­en­tais em todo os por­tos, inves­tir em auxí­li­os à nave­ga­ção e envol­ver a Praticagem des­de o iní­cio dos projetos.

No fim do even­to, hou­ve um coque­tel de lan­ça­men­to ofi­ci­al da SBHidro. Ao lon­go do dia, esti­ve­ram pre­sen­tes auto­ri­da­des como o Diretor de Portos e Costas, Almirante Roberto; o Vice-Presidente do Tribunal Marítimo, Juiz Nelson Cavalcante; o Comandante do 1º Distrito Naval, Almirante Rocha; além de outros ofi­ci­ais da Marinha, Práticos, repre­sen­tan­tes de auto­ri­da­des por­tuá­ri­as, empre­sas e universidades.

O I Seminário Brasileiro de Hidrografia Portuária teve o patro­cí­nio de Isobática Serviços Marítimos; Argonáutica Engenharia e Pesquisas; Belov; Complexo Industrial e Portuário do Pecém; Jan De Nul do Brasil Dragagem; Porto Itapoá; SLI Coastal Solutions; China Merchants Port (CMPort); e Terminais Portuários Ponta do Félix (TPPF).