Sistema de pre­vi­são do mar ali­men­ta­do por dados da Praticagem de SP vai bene­fi­ci­ar a atividade

Já está em fun­ci­o­na­men­to, com alto grau de asser­ti­vi­da­de, um sis­te­ma de pre­vi­são do mar na cos­ta do Estado de São Paulo. Lançado pelo Laboratório de Hidrodinâmica Costeira do Instituto Oceanográfico da USP, o PreAMar (Previsão e Análise do Mar) é ali­men­ta­do, em tem­po real, por dados ambi­en­tais cole­ta­dos por sen­so­res da Praticagem ins­ta­la­dos no estuá­rio. É mais uma par­ce­ria dos Práticos com a uni­ver­si­da­de e que vai gerar fru­tos para a pró­pria ati­vi­da­de, no geren­ci­a­men­to de ris­co da nave­ga­ção na Zona de Praticagem (ZP-16).

Uma das gran­des ino­va­ções é a pre­vi­são de cor­ren­tes mari­nhas, mas o sis­te­ma tam­bém ava­lia ele­va­ções da super­fí­cie do mar, tem­pe­ra­tu­ras e sali­ni­da­des da água. O PreAMar cobre três regiões: a pla­ta­for­ma con­ti­nen­tal, o Canal de São Sebastião e o sis­te­ma estu­a­ri­no de Santos-São Vicente-Bertioga. 

– A pre­vi­são de cor­ren­tes é uma das novi­da­des e um bene­fí­cio ime­di­a­to para a Praticagem, prin­ci­pal­men­te em São Sebastião, onde elas são mui­to inten­sas e, às vezes, difi­cul­tam mano­bras de navi­os mui­to gran­des. É pos­sí­vel pre­ver cor­ren­tes em mui­tos níveis, da super­fí­cie até o fun­do – diz o pro­fes­sor Belmiro Mendes de Castro Filho, coor­de­na­dor do laboratório.

Segundo o Presidente da Praticagem de São Paulo e Membro do Conselho Técnico do Conapra, Prático Souza Filho, São Sebastião rece­be navi­os de até 21 metros de cala­do e em cada pro­fun­di­da­de exis­tem influên­ci­as dife­ren­tes das correntes:

– Sem dúvi­da, o PreAMar será bas­tan­te útil. Temos um ter­mo de coo­pe­ra­ção para dis­po­ni­bi­li­da­de dos dados ambi­en­tais, os mes­mos que abas­te­cem o sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co ReDRAFT (tam­bém desen­vol­vi­do por pes­qui­sa­do­res da USP). Agora, vamos con­ver­sar para uti­li­zar o sis­te­ma de pre­vi­são do mar efetivamente.

Na tem­pes­ta­de que atin­giu São Sebastião no dia 28 de abril, dois petro­lei­ros car­re­ga­dos de óleo fica­ram à deri­va por cau­sa das cor­ren­tes e dos ven­tos inten­sos. Só não hou­ve um gra­ve aci­den­te devi­do à ação de dois Práticos que foram aci­o­na­dos para embar­car e asses­so­rar os Comandantes. O PreAMar já for­ne­cia pre­vi­sões naque­le dia. De acor­do com o pro­fes­sor Belmiro Castro, não ocor­reu um desas­tre mai­or na região por­que os ven­tos de mais de 100km/h não coin­ci­di­ram com a cha­ma­da maré astronô­mi­ca de gran­de amplitude: 

– A ele­va­ção da super­fí­cie do mar é cau­sa­da por vári­os pro­ces­sos. Um deles é a maré astronô­mi­ca, gera­da por for­ças gra­vi­ta­ci­o­nais no sis­te­ma Terra-Lua-Sol. O outro pro­ces­so é o ven­to, tam­bém cha­ma­do de maré mete­o­ro­ló­gi­ca. A res­sa­ca acon­te­ce quan­do coin­ci­dem ven­tos mui­tos for­tes com maré astronô­mi­ca mui­to alta, que ocor­re na Lua nova e cheia. Na tem­pes­ta­de daque­le dia, a ele­va­ção da super­fí­cie se deu basi­ca­men­te pelo ven­to. Senão, seria pior.

Segundo o coor­de­na­dor, além das pre­vi­sões atu­ais, está no pla­ne­ja­men­to o for­ne­ci­men­to de infor­ma­ções acer­ca da movi­men­ta­ção de sedi­men­tos no estuá­rio, que podem impac­tar em res­tri­ções operacionais:

– Sedimentos libe­ra­dos pelas dra­gas são sus­pen­di­dos pelas cor­ren­tes pró­xi­mas ao fun­do e trans­por­ta­dos por elas para outro local. Mas para onde vão esses sedi­men­tos? Haverá impac­to no cala­do dos navi­os onde foram depo­si­ta­dos? A nos­sa fer­ra­men­ta é pode­ro­sa para pro­pi­ci­ar esse tipo de estu­do no futuro.

O PreAMar está aces­sí­vel gra­tui­ta­men­te para toda a soci­e­da­de no site preamar.io.usp.br. Para comu­ni­da­des lito­râ­ne­as, é pos­sí­vel pre­ver as res­sa­cas. Em casos de der­ra­ma­men­to de óleo, há indi­ca­ção de como a man­cha pode se movi­men­tar, para auxi­li­ar as auto­ri­da­des a con­tê-lo. Pessoas que explo­ram o turis­mo no mar, como ope­ra­do­ras de mer­gu­lho, tam­bém podem usá-lo, assim como toda a comu­ni­da­de científica.

O sis­te­ma come­çou a ser desen­vol­vi­do há cin­co anos e con­tou com a par­ti­ci­pa­ção de alu­nos de pós-gra­du­a­ção, mes­tra­do e dou­to­ra­do, que rea­li­za­ram pro­je­tos associados.

O Conselho Nacional de Praticagem tam­bém man­tém uma par­ce­ria com a USP. Por meio de con­vê­nio, o Laboratório Tanque de Provas Numérico (TPN) faz simu­la­ções de mano­bras de embar­ca­ções com a cola­bo­ra­ção de Práticos de dife­ren­tes Zonas de Praticagem.