“Temos necessidade de mais 20 terminais no Arco Norte”
Na última sexta-feira (18/6), o presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), Ricardo Falcão, prático do Amapá há mais de 20 anos, foi o entrevistado da live “Logística do Agronegócio no Arco Norte”, realizada pelo Portal do Agro.
Ele lembrou que, apesar de o Arco Norte ter dobrado a sua participação na exportação do agro, ainda há um gap muito grande, com milhões de toneladas que são escoadas pelo Sul do país por falta de infraestrutura acima do paralelo 16. Em 2020, o Arco Norte alcançou paridade de movimentação de soja e milho com o Porto de Santos, respondendo por 31,9% ou 42,3 milhões de toneladas do total embarcado no Brasil, o dobro de 2009, quando foram movimentadas 7,2 milhões de toneladas, de acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
– A exportação pelos portos do Arco Norte cresceu 487,5% em 11 anos. Temos ao menos um navio saindo de Itacoatiara (AM) e Santarém (PA) todos os dias. São cerca de 1.300 embarcações que conduzimos pelos rios da região anualmente e quase metade é do agro. A realidade é muito diferente de quando cheguei na Amazônia há 20 anos, mas temos necessidade de mais 20 terminais pelo menos. A expectativa é muito grande – afirmou Falcão.
Itacoatiara recebe a produção que chega em barcaças pelo Rio Madeira. Já o escoamento para Santarém começa na BR-163 (recém-asfaltada) até terminais de transbordo em Miritituba (PA), de onde os grãos seguem em barcaças pelo Rio Tapajós. A logística vai melhorar se for implantada a ferrovia Ferrogrão, que ligará o município de Sinop (MT) a Miritituba.
O presidente do Conapra disse que muitas pessoas não percebem a capacidade de transformação do agro:
– Nas cidades das áreas produtoras, é nítida a melhoria de qualidade de vida. Você percebe isso nas escolas, no serviço de saúde, na pavimentação etc. O impacto também ocorre onde estão instalados os portos. Um terminal portuário gera 15 mil empregos diretos e indiretos e um navio atracado, R$ 10 milhões em impostos, pois estamos falando de toneladas de grãos por embarcação. E existem ainda outros aproveitamentos dos produtos do agro que movimentam a economia, como a produção de ração, a partir da soja, e etanol, do milho.
No Arco Norte, destacou Falcão, a Praticagem do Amapá tem sido fundamental para o aumento da produtividade nos últimos anos, contribuindo com sua experiência em simulações para aprovação de navios de maior capacidade e realizando investimentos para superar desafios.
Entre esses investimentos, estão a sondagem regular das profundidades dos rios, que mudam a todo momento, e o estudo das marés na barra norte do Rio Amazonas, trecho raso e lamoso que delimita o calado (parte submersa) das embarcações que acessam a Bacia Amazônica. Trata-se da maior zona de praticagem do mundo, que se estende de Fazendinha, em Macapá (AP), para o interior do Amazonas até Itacoatiara. A travessia da barra norte é facultativa de praticagem, mas os armadores contratam o serviço para a passagem de petroleiros carregados e graneleiros com mais de 11,5 metros de calado.
Os resultados são comprovados em números. Após recentes simulações na USP, a praticagem indicou a possibilidade de operar graneleiros maiores, da classe Panamax, com dois porões a mais de carga. E já existe uma sinalização para receber navios New Panamax, que podem transportar até 100 mil toneladas de grãos. O calado máximo permitido aumentou 40 centímetros em 2020, graças ao monitoramento das profundidades e das marés. Isso significa um ganho de US$ 1 milhão de lucratividade por navio.
– A nossa atividade é extremamente especializada e gera eficiência nos portos, além de cumprir sua missão de preservar o meio ambiente, conduzindo os navios sem acidentes. Representamos o Estado a bordo e tomamos conta da nossa Amazônia da melhor maneira possível. Não podemos ter poluição onde quer que seja, especialmente onde os rios comandam a vida das pessoas – disse Falcão.