Seminário no RJ difun­de fer­ra­men­tas de ges­tão de ris­cos para a Praticagem

Semear a cul­tu­ra do uso das fer­ra­men­tas e meto­do­lo­gi­as de ges­tão de ris­cos na Praticagem – tan­to na ati­vi­da­de fim quan­to na logís­ti­ca da ope­ra­ção – e incen­ti­var o com­par­ti­lha­men­to das ini­ci­a­ti­vas ado­ta­das e expe­ri­ên­ci­as, com vis­tas à pre­ven­ção. Esses foram os prin­ci­pais obje­ti­vos do pri­mei­ro Seminário de Gestão de Riscos na Praticagem, mais uma ação do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra) para man­ter a exce­lên­cia do ser­vi­ço no país.

O even­to ocor­reu, na últi­ma quar­ta-fei­ra (28/8), no Rio de Janeiro, e reu­niu mais de cem pes­so­as, entre Práticos, Gerentes de dife­ren­tes Zonas de Praticagem e con­vi­da­dos, como o Vice-Presidente do Instituto Brasil Logística, Tiago Lima, o Diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Adalberto Tokarski, e o Vice-Presidente do Tribunal Marítimo, Juiz Nelson Cavalcante, que elo­gi­ou a medida:

– A Praticagem é o pon­to ini­ci­al da segu­ran­ça da nave­ga­ção. Os núme­ros demons­tram que as mano­bras com Práticos a bor­do resul­tam em ínfi­mos aci­den­tes. Ao se pre­o­cu­par em ana­li­sar ris­cos e fazê-lo com téc­ni­ca, a ati­vi­da­de só tem a con­tri­buir cada vez mais com a segu­ran­ça da navegação.

Durante o semi­ná­rio, os par­ti­ci­pan­tes assis­ti­ram a pales­tras sobre con­cei­tos, nor­mas, méto­dos qua­li­ta­ti­vos e quan­ti­ta­ti­vos de geren­ci­a­men­to de ris­cos, apli­ca­ções em simu­la­ções, estu­dos de caso e ain­da sobre a impor­tân­cia do fator huma­no na con­tri­bui­ção e na pre­ven­ção de acidentes.

– Existem fer­ra­men­tas que o Prático pode empre­gar no dia a dia. Esse pri­mei­ro semi­ná­rio foi um pou­co mais didá­ti­co, por­que expli­ca­mos os fun­da­men­tos do geren­ci­a­men­to de ris­cos e as téc­ni­cas. É algo que faze­mos até, de cer­ta for­ma, incons­ci­en­te­men­te, pois somos ges­to­res de ris­co. Mas que­re­mos que as pes­so­as conhe­çam mais sobre a teo­ria e os méto­dos que podem ser uti­li­za­dos, além de cri­ar a cul­tu­ra da tro­ca de infor­ma­ção em caso de inci­den­tes, para que sir­va de ensi­na­men­to a todos – dis­se o Diretor Técnico do Conapra, Prático Porthos Lima.

Entusiasta do tema e ide­a­li­za­dor do semi­ná­rio, o Conselheiro Técnico do Conapra, Prático Siegberto Schenk, des­ta­cou a pes­qui­sa em par­ce­ria com o Laboratório de Análise, Avaliação e Gerenciamento de Risco (LabRisco) da USP para inves­ti­gar a con­tri­bui­ção do fator huma­no para o ris­co em mano­bras em por­tos e hidrovias: 

– Esse tra­ba­lho vai ser um mar­co na ges­tão de ris­cos na nos­sa ati­vi­da­de. Estudos reve­lam que entre 75% a 80% dos aci­den­tes na nave­ga­ção têm como cau­sa o fator huma­no, que, ao mes­mo tem­po, é a prin­ci­pal bar­rei­ra de con­ten­ção. As medi­das de miti­ga­ção e con­tro­le na nos­sa indús­tria são mui­to base­a­das no fator humano.

Segundo o Pesquisador do LabRisco, Doutor Marcos Maturana, não há no Brasil um mode­lo robus­to de desem­pe­nho huma­no em mano­bras por­tuá­ri­as para sub­si­di­ar as aná­li­ses de ris­cos. Inicialmente, o tra­ba­lho vai cal­cu­lar a pro­ba­bi­li­da­de de erro huma­no no con­tro­le de um navio em águas res­tri­tas, em dife­ren­tes cená­ri­os, com e sem Prático(s) a bordo.

– O mode­lo está estru­tu­ra­do e esta­mos quan­ti­fi­can­do os dados. Ele vai per­mi­tir aná­li­ses qua­li­ta­ti­vas e quan­ti­ta­ti­vas que inte­gram o pro­ces­so de ges­tão de ris­cos. Ao final, vamos conhe­cer melhor os ris­cos asso­ci­a­dos às ope­ra­ções de aces­sos náu­ti­cos – afir­mou o Professor.

Colega de Maturana no estu­do, o Pesquisador Danilo Abreu apre­sen­tou os resul­ta­dos ini­ci­ais des­se tra­ba­lho. Em uma ope­ra­ção rea­li­za­da de dia, por exem­plo, com total visi­bi­li­da­de, a ausên­cia de Praticagem aumen­ta em 20 vezes a pro­ba­bi­li­da­de de erro huma­no. Ele tam­bém falou sobre a nor­ma­ti­za­ção da ges­tão de ris­cos, que inclui a ABNT NBR ISO 31000, mais gené­ri­ca, e a Formal Safety Assessment (FSA), da Organização Marítima Internacional (IMO), que incor­po­ra a ques­tão do fator huma­no na indús­tria marítima.

O Comandante Mario Calixto, da Fundação Homem do Mar do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante, fez uma memó­ria da aná­li­se de peri­gos que pre­ce­deu o iní­cio da cons­tru­ção e ope­ra­ção dos navi­os da clas­se Valemax. Na épo­ca, foram fei­tas 46 reco­men­da­ções para o Porto de Tubarão (ES), 40 para o Terminal de Ponta da Madeira (MA) e 47 para o Terminal da Ilha Guaíba (RJ).

Coordenador do Centro de Simulações do labo­ra­tó­rio Tanque de Provas Numérico da USP, o Doutor Eduardo Tannuri mos­trou como o geren­ci­a­men­to de ris­cos é tra­ta­do nas simu­la­ções de mano­bras. Na oca­sião, são veri­fi­ca­dos se os limi­tes ope­ra­ci­o­nais pre­es­ta­be­le­ci­dos são ultra­pas­sa­dos. Além dis­so, os Práticos res­pon­dem a ques­ti­o­ná­ri­os de per­cep­ção de ris­cos após cada manobra.

O Prático Fabio Andrade, por sua vez, con­tou como a Praticagem do Espírito Santo con­se­guiu aumen­tar em 27% os rela­tó­ri­os de peri­go entre­gues após as fai­nas de Praticagem. O pre­en­chi­men­to das infor­ma­ções foi sim­pli­fi­ca­do, por meio de apli­ca­ti­vo, e a cada 15 dias elas são ana­li­sa­das por um Comitê Técnico, dan­do um retor­no dos casos para os Práticos, com os ensi­na­men­tos colhi­dos e as ações tomadas.

Com lon­ga expe­ri­ên­cia na avi­a­ção, o Comandante Marcio Jansen, da BMA Consultoria, expli­cou sobre o méto­do de dia­gra­ma Bowtie, bas­tan­te difun­di­do para evi­tar ame­a­ças na ope­ra­ção de dife­ren­tes indús­tri­as. Na últi­ma pales­tra, o Prático Schenk com­par­ti­lhou as fer­ra­men­tas apre­sen­ta­das no últi­mo semi­ná­rio da Associação Internacional de Autoridades de Sinalização Náutica (IALA), empre­ga­das para implan­tar Serviço de Tráfego de Embarcações (VTS) e sis­te­mas de balizamento.

O Prático Porthos encer­rou o even­to res­sal­tan­do a impor­tân­cia da apli­ca­ção do conhe­ci­men­to na ati­vi­da­de. Ele apro­vei­tou para citar as ini­ci­a­ti­vas do Conselho Técnico do Conapra para redu­zir o ris­co: o cur­so para ope­ra­do­res de ata­laia; os víde­os de ins­tru­ção para a tri­pu­la­ção das lan­chas de Praticagem; o con­vê­nio para trei­na­men­to de mano­bras em mode­los tri­pu­la­dos redu­zi­dos, no Panamá; e o desen­vol­vi­men­to do apli­ca­ti­vo No Rumo Certo, por meio do qual os Práticos podem rela­tar, duran­te o ano intei­ro, as irre­gu­la­ri­da­des encon­tra­das nos arran­jos de embar­que e desem­bar­que das embar­ca­ções. Por fim, o Diretor exi­biu um vídeo e con­vi­dou a todos para uma refle­xão sobre os ris­cos nos momen­tos de embar­que e de desem­bar­que do Prático.