PRESIDENTE DA PRATICAGEM DEFENDE PARCERIA PRIVADA NA AMAZÔNIA

Com loca­li­za­ção pri­vi­le­gi­a­da para expor­ta­ção, a Amazônia vive um boom de esco­a­men­to do agro­ne­gó­cio pelo cha­ma­do Arco Norte – cres­ci­men­to de 487,5% des­de 2009. Porém, para con­ti­nu­ar atrain­do a car­ga, os por­tos amazô­ni­cos pre­ci­sam dar a res­pos­ta de infra­es­tru­tu­ra aqua­viá­ria que o agro deman­da. E a solu­ção, mais uma vez, está nas par­ce­ri­as públi­co-pri­va­das, des­ta­cou o pre­si­den­te da Praticagem do Brasil, Ricardo Falcão, prá­ti­co na região há 23 anos. Ele par­ti­ci­pou, na ter­ça-fei­ra (30/11), do fórum “Infraestrutura na Amazônia”, da pla­ta­for­ma Amazônia que Eu Quero, uma ini­ci­a­ti­va da Fundação Rede Amazônica para colher pro­pos­tas de desen­vol­vi­men­to regional: 

– Temos um mode­lo no Brasil de arren­dar os por­tos públi­cos para a ini­ci­a­ti­va pri­va­da. Isso tor­na mais rápi­das as res­pos­tas por equi­pa­men­tos, estu­dos e outras deman­das.  A ini­ci­a­ti­va pri­va­da tem capi­tal dis­po­ní­vel para fazer inves­ti­men­tos sem pre­ci­sar pas­sar por uma lici­ta­ção, para rea­li­zar, por exem­plo, uma bati­me­tria (levan­ta­men­to das pro­fun­di­da­des), um estu­do de cor­ren­tes marí­ti­mas ou para via­bi­li­zar a ope­ra­ção com um navio mai­or. Às vezes, quan­do a ges­tão é públi­ca, exis­tem pro­ce­di­men­tos nor­mais da lei que atra­sam mui­to a solu­ção que a indús­tria necessita. 

No caso espe­cí­fi­co do Porto de Santana (AP), res­sal­tou Falcão, exis­te um gran­de poten­ci­al para tor­ná-lo mais pujan­te, mas é pre­ci­so que a Companhia Docas de Santana (CDSA), a pre­fei­tu­ra e o Ministério Público dis­cu­tam uma solu­ção para uma gran­de área não explo­ra­da e ocu­pa­da por terceiros: 

– Hoje, temos ape­nas dois ter­mi­nais quan­do pode­ría­mos ter dez. Precisamos des­sa retroá­rea à dis­po­si­ção para explo­rar novas cargas.

Outro pon­to impor­tan­te na sua ava­li­a­ção é a ges­tão por­tuá­ria esta­be­le­cer um nicho de mercado:

– Quais as car­gas prin­ci­pais a gen­te quer expor­tar e quais solu­ções temos que bus­car para via­bi­li­zá-las na Amazônia? Essa é a gran­de per­gun­ta que deve ser fei­ta, por­que é o que vai gerar impos­tos, empre­gos e desen­vol­vi­men­to sus­ten­tá­vel, sem depen­dên­cia de recur­sos gover­na­men­tais o tem­po intei­ro. O Porto de Santana, por exem­plo, ins­ta­lou um car­re­ga­dor de cava­co, que não tem mui­to volu­me para atrair navi­os para a região. Já o agro­ne­gó­cio pro­duz volu­me sufi­ci­en­te. São milhões de tone­la­das que pre­ci­sam de infra­es­tru­tu­ra aqua­viá­ria para escoamento.

A parceria da praticagem

Atividade pri­va­da, a Praticagem do Amapá tem sido gran­de par­cei­ra do poder públi­co para supe­rar esses gar­ga­los de infra­es­tru­tu­ra, assu­min­do inves­ti­men­tos que vão mui­to além dos seus deve­res. Diante das difi­cul­da­des orça­men­tá­ri­as da Marinha e das amar­ras legais que a impe­dem de atu­a­li­zar as car­tas náu­ti­cas com a frequên­cia neces­sá­ria, a pra­ti­ca­gem apor­ta recur­sos na bati­me­tria de rios cujas pro­fun­di­da­des mudam a todo momen­to. Além dis­so, a ati­vi­da­de inves­te no estu­do das marés na foz do Rio Amazonas, onde está ins­ta­lan­do um sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co que indi­ca­rá o quan­to os navi­os podem trans­por­tar sem ris­co de tocar o fun­do. No local, exis­te um tre­cho raso e lamo­so (bar­ra nor­te) que deli­mi­ta o perío­do de tra­ves­sia e o quan­to as embar­ca­ções podem car­re­gar na Bacia Amazônica.

Em 2020, a pra­ti­ca­gem deu mais um exem­plo de inte­gra­ção públi­co-pri­va­da ao reu­nir no cen­tro de simu­la­ções de mano­bras da Universidade de São Paulo diver­sas enti­da­des inte­res­sa­das em agi­li­zar o aumen­to do por­te dos navi­os no Amapá. Acompanharam os qua­tro dias das simu­la­ções con­tro­la­das pelos prá­ti­cos repre­sen­tan­tes das auto­ri­da­des Marítima e Portuária, do Ministério Público e dos pode­res Executivo e Legislativo.

Menos de um mês após os estu­dos na USP, a CDSA rece­beu o pri­mei­ro Panamax homo­lo­ga­do pela Marinha, com capa­ci­da­de para até 73 mil tone­la­das. Por déca­das, o esta­do só ope­rou embar­ca­ções da clas­se Handymax, com até 55 mil tone­la­das de carga.

Os estu­dos tam­bém indi­ca­ram a pos­si­bi­li­da­de de o Porto de Santana e futu­ros ter­mi­nais pri­va­dos rece­be­rem navi­os New Panamax, com 105 mil tone­la­das de capa­ci­da­de. Confirmou-se ain­da que o por­to pode­ria ope­rar do nas­cer ao pôr do sol, e não ape­nas por cer­ca de uma hora no esto­fo da bai­xa-mar. Outra des­co­ber­ta foi a opor­tu­ni­da­de de fun­ci­o­na­men­to 24 horas, des­de que se implan­te o bali­za­men­to notur­no e faça-se o uso de rebo­ca­do­res adequados.