PRÁTICOS SE REÚNEM NO 44º ENCONTRO NACIONAL DE PRATICAGEM

Após dois anos sus­pen­so devi­do à pan­de­mia, o Encontro Nacional de Praticagem foi reto­ma­do em Gramado (RS), em sua 44ª edi­ção. De 30 de novem­bro a 2 de dezem­bro, prá­ti­cos do Brasil intei­ro, além de geren­tes e asses­so­res de pra­ti­ca­gens, se reu­ni­ram na cida­de para tro­car expe­ri­ên­ci­as e deba­ter desa­fi­os comuns. Também par­ti­ci­pa­ram das dis­cus­sões pro­fes­so­res, pes­qui­sa­do­res, repre­sen­tan­tes da Autoridade Marítima e da Autoridade Portuária local. 

O pre­si­den­te da Praticagem do Brasil, prá­ti­co Ricardo Falcão, pro­fe­riu as pala­vras ini­ci­ais do dia de pales­tras. Ele des­ta­cou a atu­a­ção da ati­vi­da­de duran­te a pandemia:

– A movi­men­ta­ção de car­gas em nos­sos por­tos cres­ceu tan­to em 2020 quan­to em 2021. Mostramos toda a nos­sa resi­li­ên­cia. E aqui, cabe um des­ta­que à Marinha do Brasil, res­pon­sá­vel por regu­lar a nos­sa ati­vi­da­de. Graças ao nos­so mode­lo, temos a pron­ti­dão neces­sá­ria para aten­der a qual­quer deman­da no pico do movi­men­to. Atravessamos esse perío­do difí­cil sem sobres­sal­tos e sem aci­den­tes, que é o mais importante. 

Falcão apon­tou ain­da os inves­ti­men­tos rea­li­za­dos pela ati­vi­da­de no perío­do, entre eles o Instituto Praticagem do Brasil e o seu cen­tro de trei­na­men­to e simu­la­ções de mano­bras na capital:

– Em cada zona de pra­ti­ca­gem, somos par­cei­ros do desen­vol­vi­men­to do país e foi com esse espí­ri­to que inau­gu­ra­mos o nos­so cen­tro em Brasília. Estando ele pró­xi­mo das auto­ri­da­des que deci­dem sobre os pro­je­tos, a expec­ta­ti­va é que tenha­mos mais agi­li­da­de na ava­li­a­ção de canais de aces­so, implan­ta­ção de ter­mi­nais e apro­va­ção de novas clas­ses de navios.

O supe­rin­ten­den­te de Segurança do Tráfego Aquaviário da Diretoria de Portos e Costas (DPC), vice-almi­ran­te José Luiz Ribeiro Filho, tam­bém enal­te­ceu a adap­ta­ção dos prá­ti­cos na pan­de­mia para man­ter o ser­vi­ço per­ma­nen­te­men­te dis­po­ní­vel, assim como a impor­tân­cia do inves­ti­men­to em simu­la­do­res para o incre­men­to da pro­fi­ci­ên­cia pro­fis­si­o­nal e a oti­mi­za­ção dos estu­dos portuários.

Representando o dire­tor de Portos e Costas, vice-almi­ran­te Sergio Renato Berna Salgueirinho, o supe­rin­ten­den­te defen­deu a esca­la de rodí­zio úni­ca de aten­di­men­to aos armadores:

– A esca­la de rodí­zio é a garan­tia de pres­ta­ção de ser­vi­ço inin­ter­rup­to, da pre­ven­ção à fadi­ga e da manu­ten­ção da qua­li­fi­ca­ção do prá­ti­co em qual­quer tipo de navio. Entendemos que a con­cor­rên­cia (entre prá­ti­cos) não cola­bo­ra para a segu­ran­ça da nave­ga­ção, não sen­do plau­sí­vel a extin­ção ou fle­xi­bi­li­za­ção da escala.

O vice-almi­ran­te men­ci­o­nou o esfor­ço da DPC para que os dis­po­si­ti­vos de embar­que e desem­bar­que do prá­ti­co nos navi­os este­jam de acor­do com a regulação: 

– A Diretoria de Portos e Costas, por meio de seus ins­pe­to­res navais, vem inten­si­fi­can­do a fis­ca­li­za­ção das con­di­ções das esca­das. Os coor­de­na­do­res da minha Gerência de Vistoria e Inspeção foram ori­en­ta­dos a dar ênfa­se, duran­te as ins­pe­ções de port sta­te e flag sta­te, na veri­fi­ca­ção da manu­ten­ção dos dis­po­si­ti­vos. Até mea­dos do ano que vem, todos esta­rão mais seguros.

Após a aber­tu­ra do repre­sen­tan­te da Autoridade Marítima, os pai­néis foram ini­ci­a­dos com a expo­si­ção do Instituto Praticagem do Brasil. Nele, esti­ve­ram o vice-pre­si­den­te da Praticagem do Brasil e vice-pre­si­den­te do Conselho de Administração do Instituto, prá­ti­co Bruno Fonseca; a dire­to­ra exe­cu­ti­va do Instituto, Jacqueline Wendpap; e o geren­te téc­ni­co Jeferson Carvalho. 

Bruno Fonseca con­tou como sur­giu a ideia de um simu­la­dor em Brasília, apre­sen­ta­da no 43º Encontro Nacional de Praticagem em Maceió, em 2019. No dia 14 de dezem­bro, o Instituto com­ple­ta um ano.

– Temos acom­pa­nha­do o aumen­to sig­ni­fi­ca­ti­vo do por­te dos navi­os e da deman­da para o esco­a­men­to da car­ga. Mas a infra­es­tru­tu­ra por­tuá­ria não cres­ce na mes­ma velo­ci­da­de. Então, estu­dos de via­bi­li­da­de pre­ci­sam ser fei­tos para novas ope­ra­ções, novos ber­ços e ter­mi­nais. E aí, entra o simu­la­dor como exce­len­te fer­ra­men­ta. Por meio dele, tes­ta­mos os limi­tes das con­di­ções mete­o­ro­ló­gi­cas, os tipos de car­re­ga­men­to e os dife­ren­tes tipos de navi­os que se enqua­dra­rão nas mano­bras pre­ten­di­das. Além dis­so, temos a Resolução A.960 da IMO, que diz que o trei­na­men­to do prá­ti­co pode ser com­ple­men­ta­do com uso do simu­la­dor, sen­do uma exce­len­te fer­ra­men­ta no Curso de Atualização para Práticos. Da via­bi­li­da­de de novas ope­ra­ções e do cur­so ATPR, nas­ceu o nos­so cen­tro de simulações.

No pai­nel seguin­te, o dire­tor-supe­rin­ten­den­te da Praticagem de São Paulo, prá­ti­co Hermes Bastos Filho, expli­cou como as mano­bras foram oti­mi­za­das no Porto de Santos, dimi­nuin­do a oci­o­si­da­de dos ter­mi­nais e geran­do ganhos de pro­du­ti­vi­da­de. Há dois anos, ocor­rem mano­bras simul­tâ­ne­as e trá­fe­go em mão dupla em tre­chos antes res­tri­tos, com total segu­ran­ça. Para ampli­ar a efi­ci­ên­cia do uso do canal, a pra­ti­ca­gem ana­li­sou o timing de cada mano­bra de navio espe­ci­al ou de cada mano­bra casa­da, tabu­lan­do esses tempos.

– Um cru­za­men­to de navio gran­de tem seis minu­tos, em duas horas de nave­ga­ção, para acon­te­cer em pon­to segu­ro. Não é tão sim­ples. Verificamos espa­ço e tem­po dis­po­ní­veis para as mano­bras. Mudamos o para­dig­ma em nos­sas ope­ra­ções e na pro­gra­ma­ção de navi­os espe­ci­ais e “pesa­dos”, sem­pre res­pei­tan­do as nor­mas e limi­ta­ções. A nos­sa visão foi o desen­vol­vi­men­to do Porto.

Fechando o ciclo da manhã, o pro­fes­sor titu­lar do Magistério Superior da Marinha (Ciaga), Edson Mesquita, abor­dou a his­tó­ria da teo­ria da mano­bra do navio, des­de o fun­da­men­to mate­má­ti­co de Isaac Newton aos tem­pos atu­ais, maté­ria sobre o qual escre­ve nos livros “A mano­bra­bi­li­da­de do navio no sécu­lo 21” e “Princípios de hidro­di­nâ­mi­ca e a ação das ondas – sobre o movi­men­to do navio”.

À tar­de, o geren­te de pro­je­tos sêni­or da Force Technology, Guillermo Gómez Garay, capi­tão da Marinha de Guerra e da Marinha Mercante, trou­xe uma nova visão sobre segu­ran­ça marí­ti­ma e o papel do prá­ti­co, com base em estu­dos rea­li­za­dos por Suécia, Dinamarca e Canadá; trei­na­men­to de mais de 450 prá­ti­cos na Europa e nos Estados Unidos; e apren­di­za­do decor­ren­te das inves­ti­ga­ções de aci­den­tes. Um dos assun­tos de sua apre­sen­ta­ção foram os aspec­tos cul­tu­rais e soci­ais na rela­ção entre prá­ti­co e coman­dan­te do navio, que podem levar a aci­den­tes se não forem conhe­ci­dos e bem admi­nis­tra­dos no passadiço.

Já o pro­je­to pilo­to de ESG (Environmental, Social and Governance) na Praticagem da Bahia foi o tema da pales­tra do CEO da Elemental Pact, Fabio Gomes de Azevedo. Ele ante­ci­pou os pon­tos que serão tra­ba­lha­dos na zona de pra­ti­ca­gem: pre­vi­são de ris­co cli­má­ti­co, mape­a­men­to estra­té­gi­co ambi­en­tal e soci­o­e­conô­mi­co e inves­ti­men­to social.

Na sequên­cia, o prá­ti­co do Rio de Janeiro, Matusalém Gonçalves Pimenta, sócio do escri­tó­rio Matusalém Pimenta Advogados, se apro­fun­dou sobre os prin­cí­pi­os jurí­di­cos que regem o ser­vi­ço de pra­ti­ca­gem: sinis­tra­li­da­de míni­ma, inde­pen­dên­cia fun­ci­o­nal, expe­ri­ên­cia recen­te, limi­ta­ção da res­pon­sa­bi­li­da­de civil do prá­ti­co em caso de aci­den­tes e razo­a­bi­li­da­de des­sa limi­ta­ção. Ele citou exem­plos de aci­den­tes em que esses prin­cí­pi­os não foram res­pei­ta­dos, como o caso do Exxon Valdez, no qual o coman­dan­te não tinha expe­ri­ên­cia recen­te para nave­gar em área pra­ti­ca­gem facultativa.

Equipamento que pro­por­ci­o­na mais segu­ran­ça para as mano­bras, o Portable Pilot Unit (PPU) bra­si­lei­ro e sua evo­lu­ção foi o foco da pales­tra do sócio-dire­tor da Navigandi, Rodrigo Barrera. O apa­re­lho por­tá­til de nave­ga­ção ele­trô­ni­ca auxi­lia a deci­são do prá­ti­co a bor­do e foi desen­vol­vi­do em par­ce­ria com as pra­ti­ca­gens, dian­te da difi­cul­da­de de manu­ten­ção de equi­pa­men­tos estran­gei­ros no exte­ri­or. Foram qua­tro anos de desen­vol­vi­men­to após entre­vis­tas com 26 prá­ti­cos de 17 zonas de pra­ti­ca­gem, além de cam­pa­nhas de medi­ção a bor­do. Hoje, fazem uso do PPU naci­o­nal as pra­ti­ca­gens de Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo, Paranaguá (PR) e Itajaí (SC). As pró­xi­mas serão as do Pará e Rio de Janeiro. O arma­ze­na­men­to dos dados das mano­bras em nuvem pode­rá favo­re­cer estu­dos de aumen­to de cala­do e treinamento.

O últi­mo pai­nel cou­be ao geren­te de Planejamento e Desenvolvimento da Portos RS, Fernando Estima, que falou sobre a atu­a­ção da empre­sa públi­ca res­pon­sá­vel por todo o sis­te­ma por­tuá­rio do Rio Grande do Sul. Ele res­sal­tou a par­ce­ria com as pra­ti­ca­gens locais no pro­gres­so do estado: 

– Não abri­mos mão de ges­tão inte­gra­da com os demais sta­kehol­ders. Por isso, vie­mos ao Encontro e que­re­mos nos asso­ci­ar ao Instituto (Praticagem do Brasil). Me colo­co à dis­po­si­ção para aju­dar a pra­ti­ca­gem a encon­trar conos­co mais car­ga e gerar desen­vol­vi­men­to e empre­gos para o nos­so estado. 

O pre­fei­to de Rio Grande, Fábio Branco, pres­ti­gi­ou o 44º Encontro Nacional de Praticagem, além da secre­tá­ria de Turismo de Gramado, Rosa Volk. O even­to teve o patro­cí­nio de All System, DMGA Consulting, Hidromares, Navigandi, Supmar, Volvo Penta e Wilson Sons.

Confira todas as fotos dos pai­néis em https://flic.kr/s/aHBqjAhyBK