Prático abo­li­ci­o­nis­ta é entro­ni­za­do no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Foi rea­li­za­da, em Brasília, na quar­ta-fei­ra (12/12), a cerimô­nia de entro­ni­za­ção de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria Brasileira, que fica guar­da­do no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes.

O Prático abo­li­ci­o­nis­ta, por­tan­to, ago­ra tem o seu nome final­men­te gra­va­do nas pági­nas de aço do livro, com sua res­pec­ti­va bio­gra­fia. A cerimô­nia em memó­ria do home­na­ge­a­do con­tou com as pre­sen­ças do Diretor-Presidente do Conapra, Prático Gustavo Martins; do Diretor Financeiro do Conapra, Prático João Bosco; do Assessor Institucional do Conapra, Wilson Cruz; do Presidente da Federação Nacional dos Práticos, Prático Otavio Fragoso; e do Prático Rogério Bessa, do Ceará, repre­sen­tan­do o Estado onde Francisco José do Nascimento escre­veu o seu nome na História.

– Muitos bra­si­lei­ros não sabem, mas o pio­nei­ris­mo na luta con­tra a escra­vi­dão no Brasil par­tiu de um Prático. Dar o devi­do reco­nhe­ci­men­to a este bra­si­lei­ro faz jus à sua História e nada mais opor­tu­no do que fazê-lo ain­da no ano em que a Praticagem com­ple­ta 210 anos de regu­la­men­ta­ção no Brasil – afir­mou o Diretor-Presidente do Conapra.

Sobre a História

Em 1881, Francisco José do Nascimento foi mui­to além da defe­sa do inte­res­se públi­co que carac­te­ri­za a Praticagem, pro­van­do todo o seu espí­ri­to cívi­co. Em janei­ro, aos 42 anos, Chico da Matilde (nome da mãe) lide­rou o movi­men­to que fechou o Porto de Fortaleza (CE) ao trá­fi­co de escra­vos, conhe­ci­do como a Greve dos Jangadeiros.

Em agos­to, em mais uma ten­ta­ti­va de ven­da de escra­vos para o Sudeste, Práticos sob sua lide­ran­ça, a bor­do de jan­ga­das, impe­di­ram nova­men­te um embar­que, obri­gan­do fazen­dei­ros que não tinham como sus­ten­tá-los a liber­tá-los. Chico da Matilde che­gou, inclu­si­ve, a ofe­re­cer abri­go em sua casa.

“Não há for­ça bru­ta nes­te mun­do que faça rea­brir o Porto ao trá­fi­co negrei­ro”, decla­rou à época.

A par­tir do epi­só­dio, não hou­ve mais trá­fi­co no Porto e o abo­li­ci­o­nis­mo na região foi ace­le­ra­do, cul­mi­nan­do com a extin­ção da escra­vi­dão na Província em 1884, mui­to antes da assi­na­tu­ra da Lei Áurea no Brasil. Foi este pio­nei­ris­mo que levou José do Patrocínio a bati­zar o Ceará de Terra da Luz.

Naquele ano, Chico da Matilde levou a jan­ga­da Liberdade, sím­bo­lo da resis­tên­cia, no bar­co negrei­ro Espírito Santo, até o Rio de Janeiro, Capital do Império, onde foi ova­ci­o­na­do. Pela bra­vu­ra, aca­bou ganhan­do outra alcu­nha, de Dragão do Mar, do escri­tor Aluísio de Azevedo.

Pelo seu envol­vi­men­to na luta, o Prático per­deu a licen­ça para exer­cer a ati­vi­da­de, devol­vi­da somen­te em 1889 pelo Imperador Dom Pedro II. Um ano depois, rece­beu a paten­te de Major-Ajudante de Ordem do Secretário-Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará.

Nascido em Canoa Quebrada, filho de pes­ca­dor e ren­dei­ra, Francisco José do Nascimento mor­reu em 1914, pró­xi­mo de com­ple­tar 75 anos. No cen­te­ná­rio de sua mor­te, em 2014, foi home­na­ge­a­do no país intei­ro. Hoje, ele é nome de rua, cen­tro cul­tu­ral, esta­be­le­ci­men­tos, navio e esco­la. Em 2017, final­men­te foi reco­nhe­ci­do como Herói da Pátria pela Lei 13.468, apro­va­da pelo Congresso Nacional e san­ci­o­na­da pela Presidência da República.

Assista ao docu­men­tá­rio sobre ele na pági­na do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.