Praticagem do Brasil: 214 anos de boa regulação da Marinha

Neste 12 de junho, que mar­ca 214 anos de pra­ti­ca­gem regu­la­men­ta­da no país e 47 anos do Conselho Nacional de Praticagem, que­ro res­sal­tar o papel da Marinha do Brasil para garan­tir o bai­xís­si­mo índi­ce de aci­den­tes em nos­sas águas.

Desde que Dom João VI publi­cou o decre­to de pra­ti­ca­gem de 1808, pre­o­cu­pa­do com o ris­co de entra­da e saí­da de navi­os após a aber­tu­ra dos por­tos, vie­ram os pri­mei­ros regu­la­men­tos da Marinha emi­ti­dos às pro­vín­ci­as do Império. Já no come­ço da República, hou­ve a uni­fi­ca­ção das regras para a pra­ti­ca­gem no Brasil, por meio de decre­to assi­na­do por Deodoro da Fonseca e pelo minis­tro da Marinha, Eduardo Wandenkolk. Mas um divi­sor de águas foi o decre­to de 1961 assi­na­do pelo minis­tro Angelo Nolasco de Almeida, que tor­nou a pra­ti­ca­gem ati­vi­da­de pri­va­da trans­fe­rin­do toda a cus­to­sa infra­es­tru­tu­ra neces­sá­ria à pres­ta­ção do ser­vi­ço às asso­ci­a­ções de práticos.

Décadas se pas­sa­ram e as empre­sas de pra­ti­ca­gem tive­ram o res­pal­do legal para se orga­ni­zar e ofe­re­cer um ser­vi­ço de pri­mei­ra linha, tra­zen­do segu­ran­ça ao trá­fe­go aqua­viá­rio e efi­ci­ên­cia aos por­tos, mes­mo dian­te das defi­ci­ên­ci­as portuárias. 

Nos anos 1990, vie­ram novos mar­cos, com a atri­bui­ção na legis­la­ção do poder da Autoridade Marítima para regu­la­men­tar o ser­vi­ço (Lei 9.537/1997) e da sua com­pe­tên­cia exclu­si­va para pro­ver a segu­ran­ça da nave­ga­ção (Lei com­ple­men­tar 97/1999). A Marinha não se fur­tou e tra­tou das suas tare­fas de manei­ra extre­ma­men­te pro­fis­si­o­nal, pas­san­do a fre­quen­tar a Organização Marítima Internacional (IMO) e mon­tan­do uma repre­sen­ta­ção per­ma­nen­te nes­sa que é a agên­cia das Nações Unidas res­pon­sá­vel por dis­ci­pli­nar os pro­ce­di­men­tos no mar.

A Marinha nos trou­xe o que há de mais moder­no na legis­la­ção mun­di­al. Sua regu­la­ção téc­ni­ca sobre pra­ti­ca­gem, a NORMAM-12, toma como base a Resolução A.960(23) da IMO, que fez, em 2003, reco­men­da­ções sobre trei­na­men­to, cer­ti­fi­ca­ção e pro­ce­di­men­tos ope­ra­ci­o­nais para prá­ti­cos. Foi quan­do a agên­cia da ONU defi­niu os parâ­me­tros que o mun­do deve ope­rar, bus­can­do: zero aci­den­te, auto­no­mia da pra­ti­ca­gem dos inte­res­ses comer­ci­ais do arma­dor, apri­mo­ra­men­to con­tí­nuo da pro­fi­ci­ên­cia do prá­ti­co, limi­ta­ção no núme­ro de pro­fis­si­o­nais, divi­são equâ­ni­me do tem­po de tra­ba­lho e pre­ser­va­ção do meio ambi­en­te (uma pre­o­cu­pa­ção da IMO des­de a déca­da de 1970). 

Como reco­nhe­ce a pró­pria reso­lu­ção, os prá­ti­cos desem­pe­nham um papel impor­tan­te na pro­mo­ção da segu­ran­ça marí­ti­ma e na pro­te­ção do meio ambi­en­te mari­nho. E um dos pon­tos nevrál­gi­cos da NORMAM-12 é a esca­la de rodí­zio úni­ca, que visa a aten­der a pila­res que são mui­to caros a qual­quer Estado: uma nave­ga­ção sem aci­den­tes, pre­ser­van­do vidas e o meio ambiente. 

Além de garan­tir a dis­po­ni­bi­li­da­de inin­ter­rup­ta do ser­vi­ço e asse­gu­rar que o prá­ti­co não vai tra­ba­lhar demais, a pon­to de com­pro­me­ter a segu­ran­ça, nem de menos, poden­do per­der expe­ri­ên­cia, a esca­la garan­te inde­pen­dên­cia para que o prá­ti­co tome sem­pre a deci­são mais segu­ra, sem pres­são comer­ci­al do dono do navio, de for­ma a pre­ser­var comu­ni­da­des indí­ge­nas, ribei­ri­nhas, qui­lom­bo­las, enfim, toda a comu­ni­da­de local e a hin­ter­lân­dia de uma região econô­mi­ca que depen­de de um por­to fun­ci­o­nan­do. A esca­la é o ins­tru­men­to de con­tro­le do Estado bra­si­lei­ro sobre a atividade.

A con­sequên­cia de um aci­den­te é mui­to dano­sa para a soci­e­da­de e, gra­ças à efi­cá­cia regu­la­tó­ria da Marinha, somos espe­lho para o mun­do, com um mode­lo que leva a alta qua­li­da­de téc­ni­ca do ser­vi­ço, capa­ci­ta­ção dos prá­ti­cos, inves­ti­men­tos da pra­ti­ca­gem em segu­ran­ça e um índi­ce de aci­den­tes (sem gra­vi­da­de) insig­ni­fi­can­te dian­te das mais de 80 mil mano­bras rea­li­za­das anualmente. 

A pra­ti­ca­gem da Europa só atin­giu o padrão bra­si­lei­ro em 2017 e a dos Estados Unidos uma vez dis­se que seu obje­ti­vo era che­gar no nos­so pata­mar, exa­ta­men­te por esse cui­da­do da Marinha em estar ante­na­da ao que acon­te­ce na IMO. O Brasil não deve a país algum em segu­ran­ça da nave­ga­ção. Por isso, nes­te 12 de junho, mani­fes­ta­mos todo o nos­so res­pei­to a essa gran­de ins­ti­tui­ção que é a Marinha do Brasil.

Ricardo Falcão, pre­si­den­te da Praticagem do Brasil