Praticagem da Barra do Rio Grande apoia proteção a botos
Ameaçados de extinção, cerca de 90 botos vivem no estuário da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, e nas áreas costeiras próximas. Para promover a conservação dos animais, pesquisadores do Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande desenvolvem desde os anos 70 o Projeto Botos da Lagoa dos Patos. A iniciativa, que conta com o apoio da Praticagem da Barra do Rio Grande, atua com ações de educação ambiental e também com um acompanhamento minucioso da população de botos que vive nesse ambiente.
– Gosto de sempre expressar o nosso agradecimento à praticagem. O trabalho que realizamos em favor da natureza e das pessoas é complexo e nossas condições materiais são quase inexistentes. Graças a amigos, voluntários, empresas, instituições e à boa vontade de pessoas que entendem a importância desse tipo de trabalho, conseguimos realizar essas ações – afirma o oceanógrafo Lauro Barcellos, pioneiro na atividade de reabilitação de fauna marinha no Brasil e responsável pelo Botos da Lagoa dos Patos.
A Praticagem apoia a iniciativa de diversas maneiras: fornecendo dados de condições de clima em tempo real para uma navegação segura dos pesquisadores; relatando a presença e mortalidade de animais no canal de acesso; transportando pesquisadores; e auxiliando quando a lancha do projeto apresenta algum problema. Um trabalho fundamental já que a espécie de botos que habita a região foi recentemente incluída nas listas vermelhas de Espécies Ameaçadas do Brasil e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
O Projeto Botos da Lagoa dos Patos tem como objetivo compreender como esses animais, que podem viver até 50 anos, respondem às ações humanas e, com base nas informações coletadas, propor medidas para a sua manutenção. Os animais utilizam esse trecho do litoral, onde encontram alimento e proteção, durante todo ano para reprodução, criação de filhotes, alimentação e socialização.
De acordo com os pesquisadores, os principais problemas enfrentados pelos botos são a captura acidental durante operações ilegais de pesca, a degradação do habitat, colisão com embarcações e poluições química e acústica. Estima-se que a população de botos que habita a região esteja atuando no seu limite biológico de reposição e que um pequeno aumento nas taxas de mortalidade por causas não naturais possa causar o seu declínio a médio prazo.
Para proteger a espécie, o projeto monitora regularmente os botos, permitindo estimar o tamanho da população a cada ano, verificar tendências de crescimento ou redução, calcular o número de filhotes, quantos animais morrem e qual o estado de saúde da população, entre outras informações. Durante o monitoramento, coordenado por Pedro Fruet com estagiários, os pesquisadores estudam ainda o comportamento e a comunicação dos botos e como os ruídos ambientais impactam na sua comunicação e na seleção de habitat.
Outras atividades científicas como estudos sobre a genética, estrutura social, mortalidade de animais encontrados na praia e coleta de material biológico fazem parte do monitoramento sistemático que vem sendo conduzido. Em busca do desenvolvimento sustentável, o projeto trabalha ainda com a inclusão de atores sociais locais, já que muitas vezes os processos de proteção dos animais podem envolver mudanças na vida das comunidades.
A Praticagem da Barra do Rio Grande tem ainda outra parceria com o Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande. Desde a década de 70, os pesquisadores tratam animais que chegam todos os anos debilitados no Sul do país e auxiliam no seu retorno ao habitat original. O pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) é a espécie mais frequente com mais de 1.500 exemplares tratados nos últimos 20 anos. Mas há outras aves marinhas e costeiras debilitadas, como albatrozes, gaivotas e mergulhões, além de tartarugas, que passam pelos cuidados dos profissionais do centro de reabilitação e, depois de recuperados, são reinseridos na natureza com o suporte das lanchas da Praticagem da Barra do Rio Grande.