Falcão: discussão sobre dragagem precisa ser integrada
Em live sobre dragagem promovida pelo Fórum Brasil Export, o presidente do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), prático Ricardo Falcão, disse que é preciso discutir, de forma integrada, onde serão realizados os investimentos para aprofundar os canais de navegação e receber os navios maiores. A Praticagem do Brasil tem se preparado para conduzir embarcações de 366 metros de comprimento:
– O processo de conteinerização parece não ter fim. Já estamos falando de porta-contêineres de 23 mil TEUs de capacidade de carga. O problema é que não podemos imaginar que vamos dragar todos os nossos portos para operar esses navios. Não me parece viável economicamente no curto prazo. Logo, em algum momento, vamos ter que definir quais serão os hub ports e quais serão os feeders. Precisamos melhorar esse debate, com uma visão integrada.
O superintendente de Regulação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Bruno de Oliveira Pinheiro, concordou com Falcão:
– Sabemos que todos os portos são importantes, mas temos que escolher quais receberão a dragagem de aprofundamento primeiro, e gastar a energia nesses.
O presidente do Conapra voltou a defender que a dragagem seja um projeto de Estado, não de governo:
– Devemos discutir com quais os calados comerciais cada região vai operar e buscar esses objetivos como uma questão de Estado, como ocorre lá fora.
O superintendente dos Portos do Rio Grande do Sul, Fernando Estima, apontou as dificuldades que um processo de dragagem atravessa, inclusive de judicialização.
O presidente do Conapra respondeu que uma possível solução seria envolver todas as partes interessadas desde o início do projeto. Ele citou o caso de recentes simulações realizadas na USP para a entrada de graneleiros maiores em Santana (AP), que contaram com a presença de representantes do Ministério Público, do Executivo, do Legislativo, da Marinha e da Autoridade Portuária:
– Trouxemos todo mundo para o debate e conseguimos demonstrar os cuidados para que a operação seja a mais segura possível. Com isso, o relatório das simulações acaba sendo um consenso.
Otávio Grottone, da Eldorado Brasil Celulose, que opera um terminal no Porto de Santos, sugeriu a elaboração de um documento que apresente a realidade dos portos aos investidores. Ele defendeu a participação da Praticagem do Brasil, “indiscutivelmente respeitadíssima no mundo inteiro”, da Autoridade Portuária e da Marinha nesse projeto:
– Os investidores querem previsibilidade e não conseguimos oferecer isso a eles, porque não temos literatura. É preciso documentar o que está acontecendo, não importa se a notícia é boa ou ruim. O acionista quer saber em quanto tempo os problemas vão ser resolvidos.
Falcão gostou da ideia e lembrou que a Praticagem de São Paulo gera uma quantidade enorme de informações em seu centro operacional que influenciam no carregamento dos navios:
– Vamos conversar e, quem sabe, disponibilizar esse documento não só em São Paulo.
O subsecretário de Sustentabilidade do Ministério da Infraestrutura, Mateus Salomé do Amaral, destacou que a padronização da gestão ambiental nos portos é uma forma de dar previsibilidade e que um monitoramento ambiental constante pelas Autoridades Portuárias facilita as dragagens de manutenção.
Edeon Vaz Ferreira, por sua vez, diretor executivo do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, quis saber como está a situação do Canal do Quiriri, no Pará, onde, segundo ele, o ideal seria que os navios saíssem com 40 mil toneladas a mais de carga.
– Todos sabem da relevância do transporte hidroviário na Amazônia. Então, sabemos da necessidade de termos portos com calado maior na região.
O prático Ricardo Falcão disse que a resposta pode estar em viabilizar a entrada de navios de maior porte:
– Atualmente, o canal opera com 13,5 metros de calado e há uma discussão para aumentar para 13,8 metros. Estamos chegando no limite. Portanto, talvez tenhamos que discutir a possibilidade de adotar o New Panamax.
A live do Brasil Export foi mediada por Jesualdo Silva, presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), que abriu a discussão ressaltando que a dragagem é fundamental para reduzir o Custo Brasil, mas que nem sempre a solução passa por ela. A praticagem tem atendido cada vez mais navios maiores e com mais calado, superando a falta de infraestrutura dos portos.
– Hoje, temos tecnologias que permitem margens de segurança (de operação) mais adequadas. A praticagem faz uso dessas tecnologias – pontuou Jesualdo.
No que compete à Marinha, o superintendente de Segurança da Navegação do Centro de Hidrografia, capitão de fragata Cesar Reinert Bulhões de Morais, afirmou que a qualidade dos levantamentos hidrográficos de fim de dragagem precisa melhorar para atualização das cartas náuticas:
– A Marinha não aprova ou reprova levantamento hidrográfico. Ela homologa, avalia quais dados têm qualidade para aproveitamento na carta náutica. Por isso, o levantamento é muito importante e vai refletir em toda a cadeia logística.
O diretor administrativo do Conapra, prático João Bosco, e o diretor-superintendente da Praticagem de São Paulo, prático Hermes Bastos Filho, também participaram do webinário do Brasil Export.