Em São Paulo, praticagem já conduziu dois navios para quarentena
Chuva, vento, marés altas e outras condições adversas fazem parte dos desafios enfrentados pelos práticos nas manobras dos navios até os portos de Santos e São Sebastião. Nos últimos tempos, no entanto, há um novo inimigo invisível: a Covid-19. A ameaça ficou mais evidente com as constantes manobras de navios de cruzeiro recebidos humanitariamente, com tripulantes e passageiros contaminados pelo vírus. Em Santos, só o Costa Fascinosa já foi manobrado quatro vezes e o graneleiro NM Saldanha, duas. Ambos foram fundeados para quarentena.
Os práticos fazem cerca de 32 manobras diárias em Santos. Eles são os primeiros a entrar em embarcações que chegam de diversos locais do mundo e, mesmo com todos os equipamentos de proteção e cuidados, sabem que correm risco de contaminação e de se transformarem em vetores da doença.
Independentemente disso, a Praticagem do Brasil continua cumprindo sua missão de conduzir embarcações sem acidentes, mesmo quando há casos suspeitos da Covid-19 a bordo. Afinal, trata-se de um serviço essencial por lei federal.
Em março, o Conselho Nacional de Praticagem enviou carta com sugestões a Anvisa, Ministério da Saúde e Diretoria de Portos e Costas da Marinha. No documento, solicita que informem às praticagens as escalas da embarcação nos 30 dias que antecedem sua chegada ao porto; se houve troca de tripulantes no período; se foi negado o Certificado de Livre Prática da Anvisa antes da sua entrada ou atracação no porto, os motivos da recusa e detalhes nos casos ligados à suspeita de coronavírus. O documento solicita ainda uma inspeção prévia da Anvisa se os tripulantes com quadro da doença não puderem ser mantidos em isolamento ou se for necessário contato do prático com esses tripulantes durante o serviço.
A Praticagem de São Paulo intensificou e especificou procedimentos com pessoal e instalações. As lanchas são higienizadas com solução em spray de água sanitária e água, a cada saída e retorno. Nas manobras, os práticos embarcam com luvas de látex e máscaras. Nos navios em que há suspeita ou confirmação de Covid-19, eles usam a roupa completa de proteção.
– Cada vez que o navio atraca para trazer tripulantes para tratamento, abastecer ou buscar alimentos, somos chamados para as manobras – lembra o presidente da Praticagem de São Paulo, prático Souza Filho.
Os navios também atracam para desembarque de tripulantes que tentam voltar para seus países de origem, quando isso é permitido e quando as empresas conseguem passagens. Atualmente, por exemplo, Índia e Filipinas proibiram a entrada até mesmo de seus cidadãos vindos do exterior.
Segundo Souza Filho, as empresas de navegação já melhoraram muito a preocupação com o pessoal de bordo. Mas nem todos ainda usam máscaras. Durante as manobras, os práticos levam álcool em gel para passar nas luvas e em equipamentos como o handset do rádio.
A falta de comunicação, porém, ainda é um problema. Na madrugada de sexta-feira (17/4), a praticagem recebeu autorização da Autoridade Portuária para fazer a manobra de entrada do NM Saldanha no Porto de Santos, mas não foi comunicada sobre um tripulante com suspeita de coronavírus. O prático acabou subindo apenas com a proteção básica (luvas de látex e máscara). De acordo com o comandante, o navio não tinha o Certificado de Livre Prática da Anvisa. O documento libera a possibilidade de uma embarcação entrar ou sair, operar carga, receber e desembarcar passageiros.
Depois dos testes, o tripulante suspeito não teve a contaminação confirmada, mas outro sem sintomas estava infectado. O prático exposto foi afastado em quarentena. À tarde, outro prático embarcou com a traje especial para conduzir o navio até o fundeadouro, onde ficaria em quarentena.