Monitor Mercantil — Especial Marítimo 2017/2018

Os gar­ga­los dos portos

O Brasil já dá sinais de saí­da da reces­são e, em diver­sos seto­res, exis­te uma série de gar­ga­los que pre­ci­sam ser pen­sa­dos a lon­go pra­zo, não podem espe­rar a reto­ma­da da eco­no­mia. Um exem­plo é a área por­tuá­ria, por onde ocor­re mais de 90% do comér­cio exte­ri­or brasileiro.

Em 2015, a movi­men­ta­ção de car­ga nos por­tos bra­si­lei­ros foi de apro­xi­ma­da­men­te 1 bilhão de tone­la­das, e a pre­vi­são é do dobro em 2035, de acor­do com o Plano Nacional de Logística Portuária. Há estu­dos que mos­tram que em 2050 serão 4 bilhões. Além dis­so, já temos navi­os cada vez mai­o­res, por eco­no­mia de esca­la; e, no entan­to, os nos­sos canais de aces­so pra­ti­ca­men­te não muda­ram. Como vamos desen­vol­vê-los para aten­der a deman­da do agro­ne­gó­cio e da indústria?

Como garan­tir a manu­ten­ção do bai­xís­si­mo índi­ce de aci­den­tes e, con­se­quen­te­men­te, a pre­ser­va­ção do meio ambi­en­te saben­do que os ris­cos aumen­tam quan­do uma embar­ca­ção se apro­xi­ma da ter­ra? Investimento por­tuá­rio leva tem­po para se tomar realidade.

Temos ter­mi­nais anti­gos que ope­ram a 90% ou mais da sua capa­ci­da­de, cons­truí­dos com ins­ta­la­ções vol­ta­das a navi­os meno­res. Onde atra­ca­vam duas embar­ca­ções hoje atra­ca uma mai­or. O com­pri­men­to delas pra­ti­ca­men­te dobrou des­de o ano 2000.

Ao mes­mo tem­po, a dra­ga­gem tem sido insu­fi­ci­en­te, base­a­da em infor­ma­ções desa­tu­a­li­za­das e não é rea­li­za­da de for­ma con­tí­nua. Precisamos, sim, de novos ter­mi­nais e de nos pre­o­cu­par com a pro­fun­di­da­de dos canais, mas e quan­to à dimen­são hori­zon­tal des­ses aces­sos? Não vamos pla­ne­jar o trá­fe­go dos navi­os? Quantos pode­rão pas­sar em 24 horas em cada canal? Teremos encon­tro de navi­os ou mono­via? Temos que pen­sar nis­so a pri­o­ri, por­que não adi­an­ta dra­gar e cons­truir novos ter­mi­nais se as embar­ca­ções con­ti­nu­a­rão pas­san­do pelos mes­mos aces­sos. Uma hora o gar­ga­lo será o canal.

A pra­ti­ca­gem asses­so­ra os coman­dan­tes dos navi­os nas mano­bras nes­sas águas res­tri­tas e pre­ci­sa ser ouvi­da des­de o iní­cio da dis­cus­são. O desa­fio, aliás, é con­jun­to e envol­ve tam­bém a auto­ri­da­de por­tuá­ria, as empre­sas de enge­nha­ria, dra­ga­gem e rebo­ca­do­res. É um diá­lo­go que se faz extre­ma­men­te neces­sá­rio e, infe­liz­men­te, nem sem­pre exis­te coor­de­na­ção entre as enti­da­des envol­vi­das. No Fórum de Discussões Hidroviárias e Portuárias, que pro­mo­ve­mos em par­ce­ria com a Universidade Federal do Paraná, nós da pra­ti­ca­gem apon­ta­mos, além do diá­lo­go, a neces­si­da­de de uma rede de sen­so­res ambi­en­tais para a cole­ta de dados per­ma­nen­te­men­te, de for­ma que tenha­mos um his­tó­ri­co das mudan­ças cli­má­ti­cas para o pla­ne­ja­men­to de um canal.

E não temos essa cole­ta na mai­o­ria dos por­tos, assim como não temos estu­dos de aná­li­se de impac­to de novos ter­mi­nais no trá­fe­go dos canais, mui­tos menos pro­fis­si­o­nais com conhe­ci­men­to espe­cí­fi­co da área por­tuá­ria. Muitos são oriun­dos dos seto­res rodo­viá­rio e fer­ro­viá­rio. Temos que incen­ti­var a for­ma­ção de espe­ci­a­lis­tas pela aca­de­mia. Só assim tere­mos melho­res pro­je­tos. Afinal, são os requi­si­tos ado­ta­dos no pla­ne­ja­men­to que vão defi­nir as res­tri­ções ope­ra­ci­o­nais futuras.

O Gustavo Martins Prático, é dire­tor-pre­si­den­te do Conselho Nacional de Praticagem (Conapra).