CONSELHO NACIONAL DE PRATICAGEM AGORA É PRATICAGEM DO BRASIL

Discurso do pre­si­den­te Bruno Fonseca por oca­sião dos 50 anos do Conselho Nacional de Praticagem e 217 anos de pra­ti­ca­gem regu­la­men­ta­da no país, come­mo­ra­dos em 12 de junho. O even­to foi rea­li­za­do, no dia 10, no Rio de Janeiro: 

“Muito boa noi­te. É uma hon­ra ser o pre­si­den­te do Conselho Nacional de Praticagem em data tão sim­bó­li­ca, em que come­mo­ra­mos tam­bém 217 anos de pra­ti­ca­gem regu­la­men­ta­da no nos­so país. Somos 590 prá­ti­cos, dos quais 14 mulhe­res, divi­di­dos em 20 zonas de pra­ti­ca­gem. Fazemos 80 mil mano­bras por ano e, para a exe­cu­ção des­sas mano­bras, temos 200 lan­chas de pra­ti­ca­gem, 600 tri­pu­lan­tes e 38 atalaias.

Quero agra­de­cer aos 18 ex-pre­si­den­tes que nos trou­xe­ram até aqui. Foi pela capa­ci­da­de deles e de suas dire­to­ri­as que for­ta­le­ce­mos a ati­vi­da­de dian­te de tan­tos desafios.

Para enten­der a impor­tân­cia do Conselho Nacional de Praticagem, é impor­tan­te fazer um bre­ve his­tó­ri­co. Em 12 de junho de 1975, sete enti­da­des de pra­ti­ca­gem fun­da­ram o Centro Nacional de Praticagem e cons­ti­tuí­ram o Conselho como um órgão con­sul­ti­vo. As duas enti­da­des coe­xis­ti­ram até 1988, quan­do enten­deu-se que a repre­sen­ta­ção dos prá­ti­cos se daria melhor sob um conselho.

Desde 1981, a nos­sa ins­ti­tui­ção é fili­a­da à Associação Internacional de Práticos Marítimos, a IMPA, e ocu­pa uma de suas vice-pre­si­dên­ci­as. A IMPA é a voz da pra­ti­ca­gem na Organização Marítima Internacional.

No ano de 2000, o Conselho foi reco­nhe­ci­do pela Marinha como órgão de repre­sen­ta­ção naci­o­nal da ati­vi­da­de. Na oca­sião, a Autoridade Marítima lhe dele­gou algu­mas com­pe­tên­ci­as, como a coor­de­na­ção do Curso de Atualização para Práticos, o ATPR,  e a res­pon­sa­bi­li­da­de pelas homo­lo­ga­ções das ata­lai­as e tri­pu­la­ções das lan­chas de praticagem.

Quatro anos depois, nos­sa enti­da­de pas­sou a inte­grar a dele­ga­ção bra­si­lei­ra que atua na Organização Marítima Internacional, em Londres. No mes­mo ano de 2004, foi uma das fun­da­do­ras do Fórum Latino-ame­ri­ca­no de Práticos (Flaprac).

Vejam, por­tan­to, a rele­vân­cia que adqui­ri­mos no cená­rio naci­o­nal e inter­na­ci­o­nal. E isso tudo foi cons­truí­do por meio da união da pra­ti­ca­gem bra­si­lei­ra. O Conselho Nacional foi a base para coor­de­nar as ações em nome de pra­ti­ca­gens tão diver­sas e com carac­te­rís­ti­cas mui­to dis­tin­tas entre si, devi­do ao tama­nho do nos­so Brasil.

E foram mui­tas as ini­ci­a­ti­vas em prol do desen­vol­vi­men­to do ser­vi­ço. A prin­ci­pal, foi a pro­te­ção do sis­te­ma de pra­ti­ca­gem sem a con­cor­rên­cia entre prá­ti­cos. Essa con­cor­rên­cia degra­dou a qua­li­da­de em cer­tos paí­ses, levan­do a aci­den­tes e ao aumen­to dos valo­res dos seguros.

A esca­la de rodí­zio úni­ca de aten­di­men­to é o fia­dor des­se mode­lo. Ela garan­te a auto­no­mia para que tome­mos sem­pre a deci­são mais segu­ra a bor­do, inde­pen­den­te­men­te de inte­res­ses comer­ci­ais. Além dis­so, garan­te a dis­po­ni­bi­li­da­de per­ma­nen­te do ser­vi­ço, evi­ta a fadi­ga, asse­gu­ra a quan­ti­da­de míni­ma de mano­bras para man­ter­mos a habi­li­ta­ção além de ser o ins­tru­men­to de con­tro­le do Estado sobre a profissão.

Essa inde­pen­dên­cia fun­ci­o­nal em rela­ção ao arma­dor é essen­ci­al para a segu­ran­ça das ope­ra­ções por­tuá­ri­as. Muitas vezes nos­sa asses­so­ria pode ser no sen­ti­do da não rea­li­za­ção de deter­mi­na­da mano­bra. E por quê? Porque a segu­ran­ça da nave­ga­ção é o nos­so prin­ci­pal com­pro­mis­so. No fim, é um obje­ti­vo com­par­ti­lha­do por todos os envol­vi­dos na ope­ra­ção: Autoridade Marítima, empre­sas de nave­ga­ção e órgãos de gover­no. Todos dese­jam uma ope­ra­ção segu­ra e efi­ci­en­te do sis­te­ma portuário.

Ao lon­go dos anos, temos con­se­gui­do demons­trar o quão essen­ci­al é esse padrão regu­la­tó­rio para a segu­ran­ça. O resul­ta­do foi a apro­va­ção, em 2024, da nova lei de pra­ti­ca­gem. A legis­la­ção trou­xe esta­bi­li­da­de aos pila­res des­se mode­lo con­sa­gra­do internacionalmente.

A pra­ti­ca­gem bra­si­lei­ra é espe­lho para o mun­do. Ouvimos elo­gi­os em todos os even­tos onde nos faze­mos pre­sen­tes. E, sem som­bra de dúvi­da, o Conselho Nacional de Praticagem foi o motor que impul­si­o­nou o nos­so pro­gres­so, uni­for­mi­zan­do as ori­en­ta­ções téc­ni­cas a todas pra­ti­ca­gens. Além dis­so, por dele­ga­ção da Marinha, coor­de­na o ATPR. O Brasil é pio­nei­ro no pro­gra­ma e uma refe­rên­cia mun­di­al. Aqui, cabe res­sal­tar a impor­tân­cia da Marinha para o apri­mo­ra­men­to do ser­vi­ço, por meio da Diretoria de Portos e Costas, atu­al­men­te sob a dire­ção do almi­ran­te André Macedo.

E o Conselho deu fru­tos. Em 2021, foi cri­a­do o Instituto Praticagem do Brasil, em Brasília. Em seus simu­la­do­res, trei­na­mos prá­ti­cos de dife­ren­tes zonas de pra­ti­ca­gem. Além dis­so, par­ti­ci­pa­mos da ava­li­a­ção de pro­je­tos, con­tri­buin­do para ope­ra­ções e ins­ta­la­ções mais efi­ci­en­tes e segu­ras. Também atu­a­li­za­mos os ope­ra­do­res das esta­ções de pra­ti­ca­gem, as ata­lai­as. São esses ope­ra­do­res que dão supor­te ao tra­ba­lho do prá­ti­co a bordo.

O apri­mo­ra­men­to con­tí­nuo da ati­vi­da­de faz par­te da nos­sa mis­são. Nesse sen­ti­do, apoi­a­mos a pro­du­ção de conhe­ci­men­to téc­ni­co para a exper­ti­se da pro­fis­são e o avan­ço em nos­sos por­tos. Como exem­plo, cito o livro Planejamento Portuário, obra que com­pi­la as prin­ci­pais reco­men­da­ções para pro­je­tos de obras por­tuá­ri­as. A publi­ca­ção se des­do­brou em um semi­ná­rio que vai para sua ter­cei­ra edição.

O cres­ci­men­to econô­mi­co tão dese­ja­do por todos só ocor­re com o aumen­to do trá­fe­go marí­ti­mo. É nes­se con­tex­to que a pra­ti­ca­gem cola­bo­ra, rea­li­zan­do inves­ti­men­tos para que a ope­ra­ção não repre­sen­te um gar­ga­lo por inse­gu­ran­ça ou ineficiência.

Somos mais que um inter­me­di­a­dor da rela­ção dos prá­ti­cos com os entes do setor. Preparamos a ati­vi­da­de para os desa­fi­os da indús­tria marí­ti­ma, sejam eles navi­os mai­o­res, autô­no­mos ou ver­des. Fato é que o ele­men­to huma­no esta­rá sem­pre no cen­tro da dis­cus­são. Vejam: só para atin­gir as metas de des­car­bo­ni­za­ção das embar­ca­ções, 800 mil marí­ti­mos pre­ci­sa­rão ser trei­na­dos para lidar com os com­bus­tí­veis alternativos.

Como bem dis­se o secre­tá­rio-geral da IMO, Arsenio Dominguez, a tec­no­lo­gia deve empo­de­rar as pes­so­as, não subs­ti­tuí-las. E a pra­ti­ca­gem nos lem­bra dis­so a todo momen­to, em cada navio que apor­ta segu­ro, sem polui­ção em nos­sas águas. 

Os navi­os estão cada vez mais auto­ma­ti­za­dos, empre­gan­do inte­li­gên­cia arti­fi­ci­al para apoi­ar suas ope­ra­ções. Mas, se por um lado isso gera efi­ci­ên­cia e redu­ção de cus­tos, por outro pre­ju­di­ca as habi­li­da­des das tri­pu­la­ções, que se acos­tu­mam a mano­brar menos, usan­do os recur­sos de auto­ma­ção disponíveis. 

Quando os navi­os entram nos por­tos, nos momen­tos de mai­or ris­co em águas res­tri­tas, é o prá­ti­co o res­pon­sá­vel pela segu­ran­ça da mano­bra. E é impor­tan­te que man­te­nha­mos o nível de com­pe­tên­cia para lidar com as con­di­ções mais crí­ti­cas e inesperadas.

No futu­ro, os prá­ti­cos pode­rão ser um dos pou­cos pro­fis­si­o­nais a bor­do com habi­li­da­de para mano­brar em situ­a­ções de ris­co. Nosso tra­ba­lho, toma­do por uma res­pon­sa­bi­li­da­de imen­sa, será sem­pre pri­mor­di­al para pro­te­ger o comér­cio marí­ti­mo, as pes­so­as e o meio ambi­en­te onde vivem.

Além des­sa nos­sa mis­são, inte­gra­mos o esfor­ço para uma nave­ga­ção mais sus­ten­tá­vel. Para isso, con­tra­ta­mos um inven­tá­rio de car­bo­no para todas pra­ti­ca­gens. Conhecendo nos­sa rea­li­da­de, vamos ado­tar as medi­das para com­pen­sar as emis­sões, por meno­res que sejam. O nos­so Conselho Consultivo tem nos auxi­li­a­do em ques­tões estra­té­gi­cas como essa.

Em outra fren­te ambi­en­tal, tra­ba­lha­mos para sen­si­bi­li­zar os gover­nan­tes para a assi­na­tu­ra das con­ven­ções que tra­tam da polui­ção por aci­den­tes e remo­ção de des­tro­ços. O obje­ti­vo é ampli­ar a capa­ci­da­de finan­cei­ra do Brasil de lidar com emergências.

Por fim, não pode­mos dei­xar de cons­ci­en­ti­zar a soci­e­da­de sobre a impor­tân­cia da ati­vi­da­de, que vai mui­to além das manobras.

A comu­ni­ca­ção é fun­da­men­tal para aju­dar o públi­co a enten­der e valo­ri­zar o tra­ba­lho dos prá­ti­cos. Por esse moti­vo, a par­tir de hoje, o Conselho Nacional de Praticagem con­ti­nua se reno­van­do, ado­tan­do o nome Praticagem do Brasil em todas as esferas.

Devemos estar conec­ta­dos com tem­pos de trans­pa­rên­cia e diá­lo­go. E a nova deno­mi­na­ção tra­duz, com cla­re­za, nos­sa abran­gên­cia e nos­so papel estra­té­gi­co para o país. O lega­do do Conselho segue vivo em nos­sa memória.

Um exce­len­te even­to a todos!” 

Confira as fotos do evento:

50 CNP 74

https://flic.kr/s/aHBqjChEw1