BARRA NORTE DO RIO AMAZONAS TERÁ SISTEMA DE CALADO DINÂMICO

Nesta ter­ça-fei­ra, a Cooperativa de Apoio e Logística aos Práticos da Zona de Praticagem 1 (Unipilot) e o Comando do 4º Distrito Naval assi­na­ram um pro­to­co­lo visan­do à implan­ta­ção de um sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co na bar­ra nor­te do Rio Amazonas.

O sis­te­ma inte­gra­do de cole­ta e pro­ces­sa­men­to de dados cal­cu­la o quan­to um navio pode aumen­tar o seu volu­me sub­mer­so, sem ris­co de enca­lhe, con­si­de­ran­do infor­ma­ções como os inter­va­los de maré, entre outras. Esse dado é fun­da­men­tal para ampli­ar o car­re­ga­men­to das embar­ca­ções, já que a bar­ra nor­te é um tre­cho raso e lamo­so de 24 milhas na foz do Rio Amazonas, que deli­mi­ta o cala­do (par­te sub­mer­sa) de todos os navi­os na Bacia Amazônica.

Até o fim do mês, será fun­de­a­da a pri­mei­ra de três boi­as mete­o­ce­a­no­grá­fi­cas da MessenOcean, cujos sen­so­res vão ali­men­tar o sis­te­ma com dados de cor­ren­tes, altu­ra de maré e den­si­da­de da água, duran­te todos os dias da sema­na. O dese­nho hidro­di­nâ­mi­co dos equi­pa­men­tos foi adap­ta­do para a rea­li­da­de do mai­or estuá­rio amazô­ni­co, para evi­tar que sai­am da posi­ção. A ini­ci­a­ti­va con­ta com o apoio téc­ni­co da Argonáutica, empre­sa que nas­ceu na USP e desen­vol­veu o cala­do dinâ­mi­co no Porto de Santos, e do Laboratório de Dinâmica de Sedimentos Coesivos da UFRJ. Todas as infor­ma­ções cole­ta­das pelas boi­as serão com­par­ti­lha­das via saté­li­te com a Marinha, res­pon­sá­vel por auto­ri­zar o cala­do máxi­mo na região.

Além do gover­no fede­ral, o pro­je­to favo­re­ce o agro­ne­gó­cio, que expor­ta pelo cha­ma­do Arco Norte, e os esta­dos do Pará, Amapá e Amazonas, que se bene­fi­ci­am do aumen­to da arre­ca­da­ção de impos­tos por embar­ca­ção e do poten­ci­al para atrair novos ter­mi­nais por­tuá­ri­os, indús­tri­as e gerar empregos.

– Esse con­jun­to de boi­as vai tra­zer mais pre­vi­si­bi­li­da­de para o car­re­ga­men­to das embar­ca­ções e é a base para imple­men­ta­ção do sis­te­ma de cala­do dinâ­mi­co. É mais uma con­tri­bui­ção da pra­ti­ca­gem para a segu­ran­ça do trá­fe­go aqua­viá­rio e a efi­ci­ên­cia das ope­ra­ções por­tuá­ri­as – afir­mou o pre­si­den­te da Unipilot, Adonis dos Santos.

A ideia do cala­do dinâ­mi­co come­çou em 2017, quan­do a pra­ti­ca­gem fez um estu­do téc­ni­co e ins­ta­lou um maré­gra­fo no Canal Grande do Curuá, cujas infor­ma­ções são com­par­ti­lha­das com a Marinha e a UFRJ, par­cei­ra na aná­li­se das marés. As três boi­as mete­o­ce­a­no­grá­fi­cas vão tor­nar as pre­vi­sões mais pre­ci­sas. A expec­ta­ti­va é aumen­tar o cala­do das embar­ca­ções dos 11,90 metros (auto­ri­za­do em fase de tes­tes) para 12,50 metros em cer­tas jane­las de maré: um ganho de dez mil tone­la­das por navio Panamax que bene­fi­ci­a­rá toda a área de abran­gên­cia comer­ci­al dos por­tos da Bacia Amazônica.

Outra ação da pra­ti­ca­gem fun­da­men­tal para o suces­so do pro­je­to é a son­da­gem regu­lar das pro­fun­di­da­des dos rios da região, rea­li­za­da há mais de dez anos, espe­ci­al­men­te no Canal Grande do Curuá, que fica a 70 milhas da bar­ra nor­te. Isso por­que, na Amazônia, ban­cos de areia se movi­men­tam cons­tan­te­men­te sob as águas, alte­ran­do os canais de nave­ga­ção. Esses inves­ti­men­tos até o momen­to em bati­me­tria e estu­do das marés con­tri­buí­ram para a Marinha aumen­tar o cala­do de 11,50 metros, em 2017, para os 11,90 metros atu­ais (ganho de mais de US$ 1 milhão de car­ga por navio).

O coman­dan­te do 4º Distrito Naval, vice-almi­ran­te Edgar Luiz Siqueira Barbosa, dis­se que a expec­ta­ti­va é ampli­ar ain­da mais o cala­do com a imple­men­ta­ção do sis­te­ma na bar­ra norte:

– É uma área mui­to com­ple­xa, com mui­tas variá­veis de maré e ven­to por exem­plo. Esse empre­en­di­men­to vai per­mi­tir fazer o levan­ta­men­to des­ses dados e ter con­fi­a­bi­li­da­de no cala­do dinâ­mi­co, jus­ta­men­te no local onde temos menor pro­fun­di­da­de. Esperamos, no futu­ro, aumen­tar o cala­do per­mi­ti­do de nave­ga­ção dos navi­os e ter embar­ca­ções com mai­or car­re­ga­men­to e fatu­ra­men­to, tor­nan­do mais atra­ti­vo o esco­a­men­to da safra pelo Arco Norte.

Cresce o esco­a­men­to pela Bacia Amazônica

Na Amazônia, tra­fe­gam cer­ca de 1.300 embar­ca­ções por ano, sen­do qua­se meta­de trans­por­tan­do car­ga do agro­ne­gó­cio. A pro­gres­são do cala­do é cru­ci­al para o esco­a­men­to da cres­cen­te pro­du­ção. O Mato Grosso, prin­ci­pal pro­du­tor, res­pon­de por 72 milhões de tone­la­das de grãos e a esti­ma­ti­va é alcan­çar 120 milhões em 2030, sen­do que dez anos depois 60 milhões serão expor­ta­dos pelo Arco Norte, segun­do o Movimento Pró-Logística de Mato Grosso.

A car­ga do Centro-Oeste che­ga em bar­ca­ças pelo Rio Madeira até Itacoatiara (AM) e pelo Rio Tapajós até Santarém (PA). Nos por­tos, é trans­fe­ri­da para os navi­os que des­cem o Rio Amazonas.

Em 2020, a pavi­men­ta­ção da BR-163 até os ter­mi­nais onde as bar­ca­ças são car­re­ga­das, no Rio Tapajós, redu­ziu em 30% os cus­tos de fre­te, puxan­do uma redu­ção no país de 11%, de acor­do com o Ministério da Infraestrutura. No mes­mo ano, o Arco Norte igua­lou a movi­men­ta­ção de soja e milho com o Porto de Santos, com 31,9% ou 42,3 milhões de tone­la­das do total embar­ca­do no Brasil, o dobro de 2009, quan­do foram movi­men­ta­das 7,2 milhões de tone­la­das. A infor­ma­ção é da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Praticagem abre cami­nhos para a exportação

Os prá­ti­cos da ZP‑1 atu­am na mai­or zona de pra­ti­ca­gem do mun­do. São 1.416 milhas náu­ti­cas (ou 2.622 km) de nave­ga­ção e mano­bras nos rios da Amazônia, na área com­pre­en­di­da entre a foz do Rio Amazonas e a cida­de de Itacoatiara (AM), atra­ves­san­do três esta­dos (Amapá, Pará e Amazonas). Isso exi­ge um uso mui­to inten­si­vo de prá­ti­cos, um ele­va­do cus­to de des­lo­ca­men­to inter­no para aten­di­men­to e milhões em inves­ti­men­tos para garan­tir a movi­men­ta­ção com segu­ran­ça e eficiência.

Além da che­ca­gem roti­nei­ra do lei­to dos rios e da aná­li­se das marés, a pra­ti­ca­gem pas­sou a estu­dar rotas alter­na­ti­vas a cami­nhos que antes limi­ta­vam a nave­ga­ção, como era o caso do Canal do Mazagão, a 13 milhas de Fazendinha (AP), sen­ti­do Itacoatiara (AM). A exper­ti­se dos prá­ti­cos con­tri­buiu ain­da para ultra­pas­sar limi­tes ope­ra­ci­o­nais de cur­vas mui­to aper­ta­das nos rios Jari e Trombetas, com embar­ca­ções até 50% maiores.

Já no Rio Trombetas, após o bali­za­men­to notur­no, a pra­ti­ca­gem fez um esfor­ço gran­de para ajus­tar a sina­li­za­ção e trei­nar mano­bras à noi­te. Outro por­to que pode­rá ope­rar 24 horas com bali­za­men­to notur­no e rebo­ca­do­res ade­qua­dos é Santana (AP), gra­ças à par­ti­ci­pa­ção dos prá­ti­cos em simu­la­ções no Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP). O tra­ba­lho tam­bém con­fir­mou a pos­si­bi­li­da­de de entra­da de navi­os New Panamax no Amapá, com dois porões a mais de car­ga e capa­ci­da­de de até cem mil tone­la­das. A tra­ves­sia da bar­ra nor­te com navi­os mais car­re­ga­dos é o pró­xi­mo gar­ga­lo a superar.